quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

AUTOCARAVANISMO: o futuro passa pelo CPA?

Quero começar por saudar o pequeno texto da autoria do presidente do CPA, Ruy Figueiredo, sobre a portaria 1320/2008, publicada no último boletim.
Como autocaravanista e associado há já alguns anos, manifesto a minha concordância com a atitude e a posição que será levada a quem de direito, por parte do único Clube Autocaravanista com representatividade nacional e legitimidade democrática para o fazer.

Contudo, a importância que essa posição se reveste, deveria ter tido um outro destaque e um outro desenvolvimento, para uma completa percepção do que pode estar em jogo.
Não basta uma nota com uma declaração de intenções. Deveriam ficar claras as razões dessa declaração, quais as acções que serão tomadas se as reclamações não surtirem qualquer efeito e que papel podemos ter, todos, no dia a dia de autocaravanistas.

Tal como aconteceu quando um responsável da FCMP teve a ousadia de afirmar na comunicação social que a pernoita em autocaravana, na via pública, era irregular, fazendo jus, certamente, à filosofia dominante no seio daquela Federação Campista e Montanhista, a resposta da Direcção do CPA pareceu-me, uma uma vez mais, incipiente e titubeante.

A responsabilidade do CPA e, em particular, da sua Direcção, em matérias de tão grande alcance para o Autocaravanismo em Portugal, não pode ficar-se por uma espécie de nota de rodapé, ou num mero esclarecimento feito num jornal ou, ainda, a num simples post no fórum do Clube, como aconteceu com as declarações do titular federativo. Ficámos, por exemplo, sem saber qual a atitude do CPA frente à Federação onde se encontra filiado.

Impõe-se ao CPA uma escolha e um caminho: a de saber eleger o autocaravanismo como uma vertente de turismo itinerante livre e responsável, pontualmente utilizadora de campings, e de afirmação inequívoca dos direitos e dos deveres cívicos dos autocaravanistas, dignificando, assim, a modalidade.

A utilização de uma representatividade, que tem sido progressivamente alargada com novas adesões, através de um mero trabalho, quiçá meritório, como mero organizador de “encontros e passeios”, é demasiado incipiente para a expectativa dos seus associados e, sobretudo, para o futuro que a modalidade e o movimento que a suporta, exige nacional e internacionalmente.

Com as iniciativas que tomou (ou melhor dito, que não tomou) desde Fevereiro de 2008, o CPA não fez jus às acções desenvolvidas nos 2 anos anteriores, que deram ao Clube uma projecção que nunca tinha atingido, e que manifestamente vem desbaratando. O CPA perdeu em consistência “filosófica” e “institucional” o que em número de associados foi somando nos últimos meses, mercê de “ecos” anteriores.

No meu ponto de vista, impõe-se o realinhamento com as verdadeiras necessidades e expectativas da maioria dos seus associados, e dos autocaravanistas em geral que, justamente, anseiam por se sentirem reconhecidos e defendidos pelo CPA.
Os nossos dirigentes precisam de saber que o Clube não pode vogar ao sabor de agendas que lhe são estranhas e que visam, apenas, condicioná-lo na sua actuação, mesmo que apareçam vestidas de amigáveis parcerias e inocentes independências, entre outras fantasias que nos tentam distrair do essencial.

O papel do CPA é primordial para o autocaravanismo livre e responsável, mas o seu futuro poderá estar ameaçado se não forem assumidas, de vez, roturas inadiáveis e uma afirmação inequívoca da nossa identidade colectiva maioritária.

Continuar no trilho actual é contribuir para a pulverização do “movimento” em grupos divergentes e, porventura, concorrentes entre si de forma negativa, “pessoalizada” e/ou “interesseira”.

É preciso ter a lucidez para interpretar correctamente os “sinais” e a coragem para saber ultrapassar a “encruzilhada” que se vive, no seio do autocaravanismo em geral e do Clube em particular, e que vem confundindo muitos de nós, sobre o caminho a seguir.

A ausência de uma estratégia descentralizadora e geradora de cadeias organizacionais estruturantes no seu seio, continuará a alimentar aqueles que nos pretendem instrumentalizar e fragilizará, irremediavelmente, o papel aglutinador do CPA.

Definitivamente, a próxima Assembleia Geral deveria ser esclarecedora quanto ao papel do CPA no futuro: assumir-se como instituição âncora do autocaravanismo ou um clube de (alguns) “afectos”, mero organizador de eventos para “compagnons de route”.

O tempo urge, impondo-se que a próxima AG do Clube seja esclarecedora. E sê-lo há, de uma maneira ou de outra…

Laucorreia

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