sexta-feira, 24 de abril de 2009

DE AUTOCARAVANA, PELA ESTRADA DA LIBERDADE


Comemoram-se em 2009, 35 anos de LIBERDADE política.
Tal como o fazemos hoje nas nossas autocaravanas, há séculos os portugueses revelaram novos mundos ao Mundo que percorreram, tomando conhecimento de novas e diferentes realidades. Mais tarde, tal como agora, esquecemos o direito à Liberdade e Identidade dos outros e quisemos aproveitar abusivamente o que nos era dado a conhecer, e acabámos a condicionar-lhes a vida, a cultura e a Liberdade, com os resultados que são de todos nós conhecidos. As quatro décadas do Estado Novo foram o período mais negro da nossa História, que quase fazia esquecer os gloriosos tempos da epopeia quinhentista. Por isso, a queda da ditadura foi um facto social e historicamente transcendente que modificou a face de um país fechado ao Mundo, à cultura, ao avanço civilizacional económico e social.


A 25 de Abril de 1974, a Democracia veio devolver a todos os cidadãos o Direito à Cidadania plena, que implica a co-responsabilização na vida de todos nós enquanto país e, com a nossa adesão à União Europeia, enquanto cidadãos europeus, membros de uma comunidade que acarreta uma história em que a LIBERDADE sempre procurou assumir o papel central desse Direito.


A necessidade de “gerir” essa LIBERDADE para todos os cidadãos obrigou à criação de Leis e Regras que deveriam prevenir comportamentos e reprimir atitudes que colidem com o bem-estar colectivo. Mas nem sempre o legislador conseguiu o desejável equilíbrio entre a Liberdade Individual e a Liberdade Colectiva, confundindo esta com interesses corporativos.


As “regras”, bastas vezes, resultam apenas do poder de influência de grupos de pressão (lobbies) que apenas pretendem fazer valer os seus interesses particulares ou de grupo. Ficam desprotegidos, geralmente, aqueles que querem verdadeiramente usufruir da LIBERDADE integral, entendida no quadro de respeito educacional e civilizacional que deve balizar a vida em sociedade. Ficam “marginalizados” aqueles que não querem submeter-se a lógicas de poder e “condicionamento” de ideias e movimentos, porque se assumem de espírito livre e verdadeiramente independente.
Estes são os excluídos e de alguma forma os proscritos, já que a Democracia pouco reforçou a sua capacidade individual de participação social e política e os seus direitos individualmente considerados, manietando o completo usufruto do verdadeiro âmago da LIBERDADE, enquanto bem único e Direito Humano Universal e Fundamental.


Ao contrário da humanização das sociedades, tendo em vista aquele bem essencial, estas vêm reforçando a componente da “harmonização forçada” do indivíduo, cedendo a uma “organização” pensada por poucos mas destinada a ser seguida, pelo menos, pela esmagadora maioria dos cidadãos.


Vêm estas palavras a propósito, também, do Autocaravanismo.


Na França, cujo lema republicano é a Liberdade, Igualdade e Fraternidade, no espírito sobrevivente do Maio de 68, o Autocaravanista é um cidadão que goza de ampla liberdade e de apoios generalizados por parte da esmagadora maioria das autarquias locais, ao contrário do que acontece em terras lusas, onde se multiplicam as restrições à liberdade do autocaravanista e onde as autarquias “amigas” são uma minoria e, geralmente, estão localizadas em regiões do interior onde o turismo é uma miragem.
Em França nasceu e alicerçou-se um movimento associativo que sustentou e perspectivou com coerência e sentido de LIBERDADE o desenvolvimento do nosso estilo de vida e dos sentimentos que nos animam, obtendo resultados que a todos dignificam.


Por cá, pelo contrário, os principais “actores” ligados ao meio autocaravanista estão mais preocupados em como “gerir” comercialmente o mercado do “touring”, do que em assegurar a LIBERDADE dos Autocaravanistas, criando as condições adequadas a uma utilização socialmente correcta, mas livre, das autocaravanas.
Em Portugal tudo tem sido conduzido no sentido de condicionar a LIBERDADE autocaravanista, seja pelos “pró-campistas” com interesses comerciais ou associativos, seja pelos “ingénuos” representantes (e outros auto-intitulados) defensores do movimento que, com o “touring”, pretendem associar - confundindo - autocaravanismo e automobilismo.
Todos têm seguido uma política de conciliação de objectivos, tantas vezes ao arrepio da nossa LIBERDADE. Procuram parcerias e plataformas, ajustando interesses e sensibilidades, para nos convencerem da sua benevolência, procurando escamotear a apetência pelo condicionamento dos nossos movimentos e pelo nosso dinheiro.
Proclamam-se portadores de boa vontade e de seriedade, difamando quem tem a coragem de assumir a LIBERDADE de pensar diferente, procurando elevar-se no pedestal de uma pretensa vanguarda defensora do direito ao autocaravanismo (ou será antes ao “touring”?).


Tal como em França no rescaldo do Maio de 68, parece haver entre nós quem, receando a LIBERDADE, se junte em iniciativas e tomadas de decisão de, pelo menos, duvidosa representatividade. Com isso podem acabar por condicionar o ideal, mas, como a História revela, nunca conseguirão acabar com o seu espírito.
Por aqui, o espírito da LIBERDADE não morrerá, mesmo que os defensores do “touring” ordeiro e (a)condicionado consigam os seus intentos. Aqui na Tribuna Autocaravanista continuaremos a seguir pela Estrada da Liberdade, porque não há machado que corte a raiz ao pensamento.


Laucorreia

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