Uma vez estacionado pode ir “tomar o pulso” à cidade saboreando calmamente um café e um bolo num dos muitos cafés-pastelarias que por aqui proliferam, onde não será difícil reconhecer a influência da pastelaria francesa. Se numa delas comprar pão, não irá arrepender-se. O Café Nicola, frente à Câmara, é um dos clássicos (mas os bolos da pequena pastelaria que está na esquina são melhores). Se precisar de “surfar na Internet”, então vá até ao Café 2000 que tem wirless. Se prefere um pouco de requinte, então vá até ao Café Teatro-Cine onde com sorte à noite poderá assistir a um concerto.
A cidade tem alma de aldeia e ostenta em cada esquina as cicatrizes de décadas de ausência de política urbanística. Faça o favor de ignorar os atentados arquitectónicos que por lá se vêem. Apesar disso, dirija-se ao edifício dos Paços do Município e entre para visitar os seus claustros. Ao lado, atravesse o Jardim do Cardal e não deixe de reparar no edifício que está frente à PSP. De seguida atravesse a linha-férrea e logo de seguida atravesse o rio pela velha ponte D. Maria (que fica junto ao primeiro dos parques que indiquei). Pare na ponte e observe o conjunto edificado que ainda resta nas duas margens do rio. Era aqui que em tempo se localizavam várias Casas de Pasto que fervilhavam de gente no dia semanal do mercado (a praça do peixe era onde agora está o estacionamento). Compradas as sardinhas os romeiros iam depois assá-las na Casa de Pasto, enquanto os burros presos no telheiro (com vestígios ainda visíveis) se entretinham a roer as “caroças de pontas” ou a “ferrã” trazida de casa. A sopa, a salada de tomate e o vinho eram a base das receitas dos donos das Casas de Pasto.
Nesta Praça muitas vezes esfolei eu os joelhos a jogar à bola. Todas as segundas feiras mal podíamos esperar que os feirantes levantassem as bancas da fruta e hortaliça para invadirmos o espaço com as nossas jogatanas. Mesmo ao lado, na parte de baixo da cadeia, os presos assistiam por detrás das grades. Para eles as segundas feiras também era um dia diferente: tinham quem lhes desse conversa e fruta pela janela. Hoje vale a pena entrar na antiga cadeia para apreciar o museu que guarda o espólio que foi do Marquês de Pombal. Mesmo em frente têm o Celeiro do Marquês a convidar a uma curta entrada. Infelizmente a Torre do Relógio que fez parte deste conjunto arquitectónico está em ruínas, coberta de eras. Mas se tiver tempo, e pernas, suba até à Capela de S. Martinho que fica na encosta contígua à Praça. A razão da sugestão não é pela capela, mas por ser um bom local para fazer umas fotos e apreciar a beleza do entrelaçado dos telhados da parte medieval da cidade.
Bom, já que está perto, porque não subir até ao Castelo? (Se o fizer de AC suba e desça pela rua junto ao Mercado e não pela estreita Rua Direita do núcleo histórico). O castelo de Pombal integrou a linha de defesa das terras de Coimbra contra os mouros no período da formação de Portugal, e acolheu os membros da Ordem dos Templários, antes mesmo da construção da sua sede em Tomar. O interior do castelo está muito destruído, mas é um bom local para do alto das suas ameias ter uma ideia da configuração espacial da cidade.
Depois da passeata imagino que almoçar lhe pareça uma boa ideia. No Mercado Municipal encontrará algumas iguarias para o efeito. Sugiro uma morcela de arroz (grelhada) e um queijo Rabaçal (à venda no topo oeste do Mercado), aliás 2 queijos: um semi-curado (daquele que trouxe até à Corte de Lisboa a fama deste queijo) e outro fresco (que deve comer nos dois dias seguintes, com um naco de broa e uma pitada de sal e pimenta).
No talho do interior do Mercado aproveite para comprar uns quilos de “ossos”. Isso mesmo, ossos! Cubra-os de sal de um dia para o outro (sem receio de os salgar) na altura de os cozer passe-os por água e coza-os apenas com umas malaguetas, um pouco de hortelã... e um chouriço regional. Deixe cozer até a carne se soltar dos ossos, e depois de apurar algum tempo (uma hora...), atire-se a eles acompanhando apenas com broa, ou com migas regionais (broa, couves/nabiças migadas, um pouco de feijão frade e muito azeite). Será melhor não esquecer o vinho a gosto. Se eu estiver por perto convide-me para o manjar.
Se as circunstâncias se não proporcionarem a estes preparos então tem várias opções. A solução requintada, consagrada (e um pouco mais cara), que é o Manjar do Marquês. Se é da fama tradicional que quer beneficiar então opte pela parte do Snack-bar em vez do salão de restaurante. Comerá de forma diferente, comerá melhor e mais barato. Aqui terá arroz de tomate à descrição (uma delícia), croquetes, chamuças, panados, bacalhau frito, ... (no final só paga as peças que comer). Peça as migas da casa, por norma apenas servidas no restaurante, mas que não lhe serão recusadas. O Manjar fica à saída da cidade na estrada para Coimbra, e tem espaço de estacionamento.
Se prefere algo mais pacato, sugiro-lhe o “Caça Foices” (na Rua de Ansião, junto ao Mercado Municipal), ou a “Velha Caroca” no lado norte da Escola Secundária (ambos perto do terceiro estacionamento que indiquei). Na “Viúva do Mota”, Rua de Albergaria dos Doze, encontra uma opção mais tipo tasca mas com comida caseira e em conta. Com sorte encontrará aqui os tais “ossos” de que falei. Se estiver numa de se despachar, junto aos Bombeiros Voluntários (Rua de Coimbra) pode optar por uma piza ou por adquirir na churrasqueira local um frango assado ou um naco de entrecosto grelhado, ... e levar para a autocaravana para complementar o queijo rabaçal.
Terminado o almoço, se a opção não for a sesta, tem várias possibilidades. Se for para Norte, antes do leitão na Bairrada pode optar por fazer uma visita às ruínas de Conímbriga (onde pode pernoitar em paz).
Se precisar de fazer a manutenção, a 10 kms tem uma área de serviço: junto ao campo de futebol de Vermoil (N39º51’04; W8º39’41). Siga pela N1 na direcção de Leiria e na Ranha vire à esquerda até ao centro da freguesia de Vermoil.
Se não precisa de passar pela AS, então, depois da serra, deixe-se seduzir pelo mar. Aponte ao Louriçal (se for Domingo aproveite para sentir a algazarra da feira e comprar uns biscoitos do Convento confeccionados pelas próprias freiras) e depois siga para o Carriço. Aqui procure o caminho para a praia do Osso da Baleia (N40º00’13; W8º54’52) e experimente a sensação de estar numa praia deserta, com um areal a perder de vista, perdida nos confins da mancha florestal do Pinhal do Urso. Se gosta da costa atlântica... então esta praia foi feita para si (para mim não, que aquilo é um gelo).
Em S. Pedro de Moel não faça nada, escolha um dos muitos locais possíveis que lhe agradem e... simplesmente deixe-se ficar: leia, medite, contemple a paisagem, converse... enfim, usufrua deste lugar fantástico e deixe-se envolver na sua inevitável neblina matinal até que o pôr-do-sol o acorde do sonho. Se gosta de acampar, o parque local da Orbitur parece-me uma boa opção (quanto mais não seja pela densidade de pinheiros, mas não só). Na hora de partir lembre-se que o centro da Marinha Grande merece uma visita. Daqui pode optar por dirigir-se à Nazaré-Alcobaça, ou por visitar o interessante castelo-residencial de Leiria indo pernoitar na área de serviço da Batalha, mesmo nas traseiras do majestoso Mosteiro.
Bom, acho que por hoje chega de passeio. Atreva-se a aceitar o meu convite, vai ver que não se arrepende. Desfrute!
Raul Lopes
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