quarta-feira, 1 de abril de 2009

Viajar na minha terra: ÉVORA

Évora! Ruas ermas sob os céus
Cor de violetas roxas… Ruas frades
(…)
Évora!... O teu olhar… o teu perfil…
Tua boca sinuosa, um mês de Abril,

Florbela Espanca


O perfil de Évora é o recorte circular das suas ameias, e no topo, vigilante e altaneiras, o zimbório e as torres da Sé que, desde longe se avistam.

Experimente-se pois esta visão da estrada que liga o Redondo a Évora, imaginando que veio de Espanha e já passou por Estremoz, Borba (terra de bons vinhos e petiscos), Vila Viçosa, a princesita alentejana e terra natal da Poetisa.
Estacione fora das muralhas e, se quiser marcar já lugar na sua “quintinha”, terá vários pontos simpáticos à escolha. O Rossio de S. Brás, um terreiro imenso de terra batida muito concorrido por AC, mesmo em frente de uma das portas da cidade: a da rua da República (de meados de Maio até à 1ª semana de Julho, terá forçosamente de escolher outro poiso porque as Festas da Cidade – a centenária Feira de S. João – enche o espaço do habitual local de estacionamento).



Ermida de S. Brás (Rossio)

Rossio: modelo gigante


Rossio: modelo improvisado
Outras hipóteses são perto da Porta da Lagoa, ou ao lado da Porta de Avis. Menos silenciosas que o Rossio, mas a primeira com algum carisma, mesmo ali ao lado do Aqueduto da Água da Prata e da relva.


Aqueduto


Qualquer deles são meros parques de estacionamento, Évora, como tantas outras cidades portuguesas, ainda não acordou para a recepção de AC em zonas próprias e acolhedoras. Quanto a mim, já pensei várias vezes num parque completamente desaproveitado, onde ninguém estaciona, perto da Porta da Lagoa e mesmo ao lado da entrada por um arco cortado na muralha, em direcção ao Teatro Garcia de Resende. Se tivesse dinheiro, até criava ali uma zona simpática e colocaria lá uma casinha de recepção com atendimento personalizado… devaneios de autocaravanista e amante das línguas.



A zona AC sonhada...

Estacionada a AC, está na hora de partir à exploração. Exige-se bom calçado nos pés, porque as “ as ruas frades” se percorrem a pé e sempre com uma máquina fotográfica já que a cidade é vaidosa e esbelta. Se o propósito for histórico e detalhado, um gordo fim-de-semna não chegará para tanta História e arredores. Fechado entre muralhas, o centro histórico é um labirinto de ruas – ermas, frades… - por onde a História respira, desde o período romano, passando por todos os estilos artísticos e arquitectónicos: medieval, gótico, clássico, barroco…, enfim, todas as assinaturas, cores e odores.Logo no Rossio, a ermida de S. Brás; subindo a Rua da República, à esquerda, a Igreja de S. Francisco (com a turística Capela dos Ossos) e à direita os Meninos da Graça.


Depois a Praça do Geraldo e as suas dez ruas (conte-se o número de carantonhas da fonte, na Praça…). Pela 5 de Outubro, peregrinação até à Sé, Templo Romano, Biblioteca, Pousada e Igreja dos Lóios, Paço dos Duques de Cadaval, Universidade, Portas de Moura….

Praça do Geraldo


Sé catedral



Carantonha e o Geraldo (Brasão da cidade)


A toponímia eborense é outro passeio: Esta era mesmo a rua do Diogo.

Regressando à Praça, na Rua da Moeda, a zona judaica, mais à frente pela Rua de Avis, a mouraria, já para não falar de dezenas de capelas com as quais nos vamos cruzando, numa azáfama de História e religião. A par, sempre o branco e o ocre. E o sol, de preferência. Não exagere, evite o mês de Agosto, sempre são 40 ou mais graus…



Poderá sempre refrescar-se nas piscinas municipais, há 40 e tal anos atrás, um exemplo de espaço de ócio, hoje uma estrutura ultrapassada e insuficiente para a procura jovem e desportiva. Opte pois pela Primavera, o sol será mais ameno e igualmente azul luminoso, bom para apreciar paragens em algumas esplanadas, como na Praça do Geraldo; no mercado, comendo um gelado da Zoka, ou uns caracóis e uma imperial, ao lado de S. Francisco.
Para apreciar a boa gastronomia, espaços não faltam, uns para bolsas recheadas, outros para mais parcas: “¼ para as nove” e o seu arroz de tamboril; petiscos vários no “Molhóbico” (também com boa esplanada); os pequenos restaurantes na Rua dos Mercadores…; o café Alentejo; a Cascata ou se a preferência for estrangeira, o “Italiano”. Para apreciadores de doçaria conventual, o “Mel e Noz” ou outras pastelarias menos sofisticadas (Violeta) e gourmets (Boa Boca) que começam agora a nascer.


O templo, claro!



Fonte das Portas de Moura e Palácio Cordovil

Aparte a História, caso tenha trazido o seu atrelado de bicicleta, tem ainda a possibilidade de pedalar ao longo da Ecopista, caso contrário poderá caminhar mais um pouco. A pista circunda Évora pelo lado Este, aproveitando a antiga linha de caminho-de-ferro até Arraiolos… passando pela Graça do Divor, paisagem a destacar, mesmo ali ao lado da barragem. Um salto a Arraiolos também é bom desvio, mesmo que não se comprem os famosos tapetes, é sempre aconselhável. Ou mesmo até Pavia, indo à pesca na barragem de Montargil, ou visitando o Fluviário de Mora...


O branco e o ocre

Enquanto enche os olhos do Passado, tem sempre o lado comercial, mesmo à mão de semear, na Praça dos Geraldo e ruas afins, basta seguir os anúncios…
Ou então, fora das muralhas, o “novo”, como o bairro branco do prestigiado Siza Vieira (Malagueira), naquela que foi (já alguns anos…) uma assinatura diferente de nova arquitectura.
(Lago da Malagueira)


Culturalmente, apesar de já não ser o que era, Évora ainda sopra alguns ventos naturais: o Cendrev, companhia de Teatro profissional terá certamente algo em cartaz no Teatro Garcia de Resende, como por exemplo os imperdíveis Bonecos de Santo Aleixo, ou então, de 2 em 2 anos a Bienal Internacional de Marionetas. Este ano é ano sim, em Maio…
Fora das Muralhas, na zona industrial, a Companhia de Dança Contemporânea, ou então o Espaço do Tempo (companhia do coreógrafo Rui Horta) em Montemor-o-Novo.
Antes de lá chegar convém, porém, um desvio por o cromoleque dos Almendres ou a gruta do Escoural (neste caso, não sem antes telefonar a marcar, 266 857 000).
Mais para sul, aconselham-se outras paragens a caminho do Alqueva: as olarias de S. Pedro do Corval, Monsaraz, a marina da Amieira, aldeia da Luz…
E, para fechar o capítulo, há sempre a possibilidade de regressar em qualquer estação, quiçá a neve se lembre de cair e nasça daí um belo e incomum postal ilustrado …
(Neve em Évora, 2006)
Mais difícil será o mar, mas até Alcácer não é assim tão longe e logo ali está a praia do Carvalhal ou Troia, ou então, para se pisarem MESMO, praias alentejanas, basta seguir Évora-Torrão-Grândola que, até Sines e à costa alentejana ( Porto Côvo , por exemplo) , é só um saltinho.
Em AC há sempre esse salto que torna possível qualquer destino, com ou sem neve, com ou sem praia e, como as estações agora se trocam e baralham como as cartas de jogar, nada é impossível. Boa viagem!

Paula Vidigal

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