No sopé da Serra da Sicó o primeiro fim-de-semana de Agosto é sempre diferente dos outros dias do ano. Há séculos que assim é. Ao raiar da aurora, de todos os trilhos, venham eles do vale ou da serra, surgem mulheres de cores garridas e homens de fato de mostrar a Deus. Na mão, ou à cabeça, transportam consigo os sacos com o almoço melhorado que as Festas do Bodo impõem. O melhor coelho ou o maior galo da capoeira terá sido sacrificado na véspera. Nestes dias as aldeias vizinhas despovoam-se e o único destino é Abiul (N39º52’32; W8º32’20).
Desde o séc. XVII que aqui se localiza a praça de touros mais antiga de Portugal e uma das mais antigas da Península Ibérica, razão suficiente para que anualmente aqui se realizem duas corridas de touros com carteis seleccionados de entre os melhores interpretes da arte.
Desde o séc. XVII que aqui se localiza a praça de touros mais antiga de Portugal e uma das mais antigas da Península Ibérica, razão suficiente para que anualmente aqui se realizem duas corridas de touros com carteis seleccionados de entre os melhores interpretes da arte.
O ritual começa pela manhã. No largo da aldeia apreçam-se os primeiros melões do ano, do tipo casca rija de carvalho. Protegidos do sol pelos ramos de uma oliveira ou de um carvalho, lá se vai esquartejando o melão enquanto do alto se assiste à chegada dos touros, conduzidos a pé pelos campinos desde a parte baixa da aldeia. Noutros tempos o percurso era mais longo e os touros pernoitavam a 2 kms da Praça, num local que ainda hoje ostenta o nome de Touril. Entretanto chegam os cavalos com o seu ar distinto, ninguém ficando indiferente à sua passagem.
Tirando partido da permeabilidade das bancadas construídas com tábuas de madeira suportadas por troncos de pinheiro, os miúdos trepam para a parte superior dos curros de onde assistem ao manuseamento e preparação dos touros para a lide. Mesmo ao lado escovam-se e enfeitam-se os cavalos.
Chegada a hora, as casas do centro da aldeia abrem-se de par em par para nelas se improvisarem casas de pasto onde os visitantes degustam os seus farnéis e aguardam pela hora do início da tourada. Mais tarde, no primeiro andar de uma delas haverá um baile animado a acordeão que até de madrugada mobilizará todos os jovens das redondezas, assim como as mães encarregues de vigiar de perto os movimentos das filhas.
Tirando partido da permeabilidade das bancadas construídas com tábuas de madeira suportadas por troncos de pinheiro, os miúdos trepam para a parte superior dos curros de onde assistem ao manuseamento e preparação dos touros para a lide. Mesmo ao lado escovam-se e enfeitam-se os cavalos.
Chegada a hora, as casas do centro da aldeia abrem-se de par em par para nelas se improvisarem casas de pasto onde os visitantes degustam os seus farnéis e aguardam pela hora do início da tourada. Mais tarde, no primeiro andar de uma delas haverá um baile animado a acordeão que até de madrugada mobilizará todos os jovens das redondezas, assim como as mães encarregues de vigiar de perto os movimentos das filhas.
Pela mão do meu avô, que exibia este gesto como a atribuição de um prémio de bom comportamento, muitos foram os anos da minha meninice que tomei parte deste ritual colectivo. Claro que a Praça de Touros, agora reconstruída (mas continuando a ter como únicos lugares à sombra aqueles que o velho carvalho protege da canícula), continua no mesmo sítio. E todos os primeiros fins-de-semana de Agosto se continuam a realizar touradas em Abiul. Mas o resto do colorido faz tempo que se perdeu. Agora os touros, os cavalos e as pessoas vão de carro até junto da Praça pouco antes da hora aprazada. Terminada a tourada, depressa a aldeia se esvazia.
Apesar disso, Abiul continua a ser um bom local para iniciar a visita ao concelho de Pombal. Esta terra que até 1821 foi sede de concelho fica junto ao IC8, a menos de 10 kms de Pombal no sentido Castelo Branco, Tomar… Se gosta de “maranhos” então ao passar por Abiúl entre na tasca que fica nas traseiras da farmácia (junto à igreja) e compre uns “tortulhos”, versão local dos maranhos, que era um petisco incontornável dos casamentos populares na zona. Depois, desça (a pé) ao núcleo medieval da aldeia onde pode ver o Paço dos Duques e o forno do povo, local onde se cozia a Fogaça do Bodo confeccionada com 12 alqueires de trigo. Até 1913 colocada a fogaça no forno havia um homem que lá entrava e dava três voltas ao bolo com um cravo na boca, saindo ileso.
Apesar disso, Abiul continua a ser um bom local para iniciar a visita ao concelho de Pombal. Esta terra que até 1821 foi sede de concelho fica junto ao IC8, a menos de 10 kms de Pombal no sentido Castelo Branco, Tomar… Se gosta de “maranhos” então ao passar por Abiúl entre na tasca que fica nas traseiras da farmácia (junto à igreja) e compre uns “tortulhos”, versão local dos maranhos, que era um petisco incontornável dos casamentos populares na zona. Depois, desça (a pé) ao núcleo medieval da aldeia onde pode ver o Paço dos Duques e o forno do povo, local onde se cozia a Fogaça do Bodo confeccionada com 12 alqueires de trigo. Até 1913 colocada a fogaça no forno havia um homem que lá entrava e dava três voltas ao bolo com um cravo na boca, saindo ileso.
Mesmo ao lado do forno ainda é visível o que resta do palanque dos duques de Aveiro, testemunho do tempo em que a tourada se realizava no largo do forno. Para além de alguns pormenores da arquitectura desse núcleo, esteja atento aos candeeiros suspensos das paredes, que em tempos iluminavam as ruas… a azeite. Por falar em azeite, se a passagem ocorrer na altura da apanha da azeitona, mostre aos seus filhos um lagar em funcionamento (o único que sobrevive de entre uma imensidão de outros que por aqui havia). Este lagar localiza-se num edifício discreto à saída da aldeia no sentido de Vila-cã (pelo caminho de Touril).
Concluída a visita rume a Pombal. A meio caminho faça um pequeno desvio e visite uma aldeia medieval ainda habitada: a Aldeia do Vale (acesso pelo IC8, na zona onde a serra da Sicó é mais visível).
(Continua...)
Raul Lopes
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