quarta-feira, 4 de março de 2009

EM DEFESA DA LIBERDADE EM AUTOCARAVANA

Muito se vem escrevendo e discutindo sobre Autocaravanismo. Como turista itinerante, proprietário de uma AC, quero-vos transmitir o meu apego profundo à liberdade “on the road” e a minha rejeição do “escutismo autocaravanista”.

Foi por “perseguir” essa liberdade de poder viajar (quase) sem limites, sem hora nem lugar marcado, ao sabor do “sonho” e da “aventura” e da vontade da ocasião, que troquei, nas minhas viagens, uma viatura ligeira (e tenda ou caravana), por outra viatura “completa”, mas ainda assim, no mesmo escalão rodoviário, isto é, uma viatura ligeira, com os mesmos direitos e deveres face à lei.

Como cidadão responsável, com suficiente educação cívica, social e ambientalmente interessado e respeitador, tenho sabido usar a minha “casinha itinerante” com base nos pressupostos legais existentes e, sem qualquer problema com as autoridades, tenho até agora usufruído dessa vivência extraordinária que se consubstancia no estilo de vida “autocaravanista”.

Não compreendo, por isso, a “fobia” em legislar sobre a prática, porquanto, todas as situações que se relatam de donos de autocaravanas com práticas “estranhas” à modalidade e que envergonham o “movimento” têm na lei vigente forma de serem devida e correctamente punidos.

O “campismo selvagem”, os atentados ambientais resultantes do lixo, despejos, ocupação da via pública, e outros comportamentos ilegais, estão todos devidamente assinalados na Lei, sendo passíveis de punição.

Se as autoridades cumprissem o seu papel fiscalizador correctamente, todos os prevaricadores seriam penalizados, sem haver necessidade de legislação específica, qual obsessão “colectiva” que se instalou no meio autocaravanista.

Por outro lado, algumas autarquias vêm praticando “abusos de poder” face à legislação existente em matéria de trânsito, a única que do meu ponto de vista pode ser aplicada ao veículo “autocaravana”. Esses actos, ao contrário do que seria de esperar dos “nossos representantes”, nunca foram contestados até à última etapa - nos tribunais - como bem aconteceu em França, onde diversos episódios idênticos resultaram na condenação e anulação de “despachos” municipais.

Aqui, por terras lusas, assistimos à “bajulação” do poder, às romarias à AR, aos salamaleques a deputados, numa autêntica “feira de vaidades”, jogos de influência e pedantismo, numa espiral de exibicionismo lamentável.

A falta de discernimento quanto aos verdadeiros interesses do “turismo itinerante” em autocaravana, agora pomposamente chamado de “touring”, para lhe dar um ar de “finess”, é confrangedora por parte de muitos autocaravanistas.

Não nos espanta que haja entidades comerciais ou mesmo associativas interessadas em legislação e sinalização “amigavelmente” castradora, para melhor promoverem os seus interesses em nos “acantonar”, seja em campings, áreas especiais para autocaravanas ou afins, querendo limitar a nossa liberdade de estacionar, usando todas as faculdades que uma autocaravana nos disponibiliza (comer, dormir, etc.).

Se dormirmos num automóvel, alguém se interessa? Se comermos num carro alguém se preocupa? Se estacionamos a nossa “berlina” num parque de estacionamento à beira-mar, alguém se incomoda? Se um camião estaciona numa área pública e nele dorme o seu condutor, só ou acompanhado, alguém o vai incomodar?
Todos eles podem andar a fazer “turismo itinerante” sem que legislação especial seja necessária.
As leis que existem são suficientes e condenam os abusos e atentados que possam ser perpetrados pelas pessoas, seja qual for o veículo utilizado. Os actos ilegais são praticados pelas pessoas, não pelo veículo que utilizam.

O que pedimos, e nisso, infelizmente, os nossos “iluminados” representantes, com maior, menor ou mesmo nenhuma representatividade não entendem, ou não querem entender, é que “actividade autocaravanista” deve permanecer livre e não condicionada à prática campista ou de alguma forma com ela confundida.

Uma autocaravana pode ser um veículo adequado à utilização num parque de campismo, mas está a “anos-luz” de ser um mero meio de fazer campismo. Uma autocaravana é um veículo (ligeiro ou pesado) sujeito às leis do trânsito e tão só isso.

Assim sendo não precisamos que se defenda o Direito ao Autocaravanismo (utilização de autocaravana), esse não está, nem pode nunca estar em causa numa sociedade democrática. Precisamos sim de ver consagrado em Lei o Direito do Autocaravanismo, que no caso o mesmo é dizer, os Direitos dos Autocaravanistas, reforçando a ideia da igualdade no tratamento geral rodoviário e na criação das melhores condições para podermos abastecer e fazer despejos em condições de salubridade e dignidade.

Precisamos fazer entender à sociedade que se formos bem recebidos, se nos forem dadas as melhores condições para a utilização das nossas autocaravanas, poderemos corresponder, visitando as localidades, frequentando o seu comércio, os seus museus, restaurantes, etc. e dessa forma contribuir para economia local, regional e nacional de que Portugal tanto necessita.

Precisamos de ver reconhecido e “acarinhado” o nosso contributo positivo com iniciativas que visem criar as melhores condições de uma utilização livre da autocaravana e não de acções destinadas a castrar essa liberdade.

Para me obrigarem a parquear e a dormir onde bem querem, fico em casa. O que me fez escolher uma autocaravana foi precisamente a liberdade que ela me proporciona.

Se todos meditarmos nisto, podemos compreender que qualquer tentativa “legisladora” não reflectida pode resultar numa castração da nossa liberdade que, com responsabilidade, todos os verdadeiros autocaravanistas sabem e querem continuar a usufruir.

Não podemos deixar-nos iludir com a ideia de que uma legislação específica nos vem favorecer. Desiludam-se disso. Não precisamos que nos regulem. Precisamos que nos criem as condições adequadas, proliferando as áreas de serviço, bastando para tanto, as de tipologia utilizada no “projecto CPA”, ou até de tipo mais simples.

Dispensamos que nos limitem o espaço, para além do que já existe em matéria viária, ambiental e de ordenamento do território, sem descriminações, sob pena de perdermos aquilo com que sonhámos ao adquirir as nossas autocaravanas.

Não vos deixeis, por isso, ir atrás dos “falsos profetas” do paraíso, que apenas procuram com as suas acções “mostrar serviço” e melhor defenderem os seus lugares e, quiçá, os seus interesses escondidos.
O nosso “movimento” representa um “apetitoso mercado”, mas cabe-nos a nós escolher livremente a quem e onde queremos “comprar”.
Estejamos alerta e livres para pensar e agir.

Laurindo Correia

1 comentário:

Unknown disse...

Caros companheiros,

assinalei com gosto o quadradinho "aplaudo" no fim desta mensagem.

Aproveito a ocasião para informar que sou um novato absoluto nestas lides; efectivamente, e para ser correcto, ainda não sou autocaravanista dado que a minha autocaravana só me vai ser entregue no próximo dia 10 de Março. Vai ser a minha primeira experiência nesta actividade.

Quero ainda aproveitar para expressar a minha grande confusão sobre o autocaravanismo: com efeito, tinho vindo a ler tudo o que posso sobre a matéria em "sites", blogs e forums nacionais e estrangeiros. Como resultado já me cheguei a arrepender da decisão que tomei em adquirir a autocaravana. Perseguição das autoridades, dificuldades de estacionamento, má qualidade geral dos veículos, insegurança, assaltos, má vontade das populações em relação aos autocaravanistas, etc, etc, já li de tudo.

É também com certa pena e preocupação que assisto a ataques pessoais no meio conexo com a Internet e, dada a minha inexperiência, fico sem perceber como é possível que numa actividade com as caracteristicas que esta deveria ter eles são possíveis.

Enfim não posso continuar porque, como comentário, este desabafo já vai demasido longo. Do facto peço as minhas desculpas e espero que as minhas preocupaçõea não tenham fundamento.

Saudações autocaravanistas