terça-feira, 31 de março de 2009

Venha visitar a minha terra: POMBAL

Concluída a visita a Abiul e à aldeia do Vale, sugiro agora um passeio pela cidade.

Em Pombal normalmente é complicado estacionar, com qualquer tipo de veículo, sobretudo durante o dia. Com a autocaravana o melhor será tentar um dos três seguintes parques de estacionamento: na zona desportiva (com WC público: N39º54’48; W8º37’47); junto ao Auditório Municipal (N39º54’54; W8º37’49), ou no lado E do Hospital (N39º55’04; W8º37’26). Para pernoitar só recomendo este (ou alternativamente entre a GNR e o Pingo Doce), já que os dois primeiros ficam junto à linha-férrea e tornam-se isolados durante a noite.
Uma vez estacionado pode ir “tomar o pulso” à cidade saboreando calmamente um café e um bolo num dos muitos cafés-pastelarias que por aqui proliferam, onde não será difícil reconhecer a influência da pastelaria francesa. Se numa delas comprar pão, não irá arrepender-se. O Café Nicola, frente à Câmara, é um dos clássicos (mas os bolos da pequena pastelaria que está na esquina são melhores). Se precisar de “surfar na Internet”, então vá até ao Café 2000 que tem wirless. Se prefere um pouco de requinte, então vá até ao Café Teatro-Cine onde com sorte à noite poderá assistir a um concerto.
A cidade tem alma de aldeia e ostenta em cada esquina as cicatrizes de décadas de ausência de política urbanística. Faça o favor de ignorar os atentados arquitectónicos que por lá se vêem. Apesar disso, dirija-se ao edifício dos Paços do Município e entre para visitar os seus claustros. Ao lado, atravesse o Jardim do Cardal e não deixe de reparar no edifício que está frente à PSP. De seguida atravesse a linha-férrea e logo de seguida atravesse o rio pela velha ponte D. Maria (que fica junto ao primeiro dos parques que indiquei). Pare na ponte e observe o conjunto edificado que ainda resta nas duas margens do rio. Era aqui que em tempo se localizavam várias Casas de Pasto que fervilhavam de gente no dia semanal do mercado (a praça do peixe era onde agora está o estacionamento). Compradas as sardinhas os romeiros iam depois assá-las na Casa de Pasto, enquanto os burros presos no telheiro (com vestígios ainda visíveis) se entretinham a roer as “caroças de pontas” ou a “ferrã” trazida de casa. A sopa, a salada de tomate e o vinho eram a base das receitas dos donos das Casas de Pasto.

Uma vez aqui, vire-se para o Castelo e rume ao largo do Pelourinho. Observe alguns pormenores de edifícios que se encontram no núcleo histórico compreendido entre a Câmara Municipal e a Praça do Marquês (ignore aquele que está revestido a azulejo de casa de banho, mesmo na esquina da praça).
Nesta Praça muitas vezes esfolei eu os joelhos a jogar à bola. Todas as segundas feiras mal podíamos esperar que os feirantes levantassem as bancas da fruta e hortaliça para invadirmos o espaço com as nossas jogatanas. Mesmo ao lado, na parte de baixo da cadeia, os presos assistiam por detrás das grades. Para eles as segundas feiras também era um dia diferente: tinham quem lhes desse conversa e fruta pela janela. Hoje vale a pena entrar na antiga cadeia para apreciar o museu que guarda o espólio que foi do Marquês de Pombal. Mesmo em frente têm o Celeiro do Marquês a convidar a uma curta entrada. Infelizmente a Torre do Relógio que fez parte deste conjunto arquitectónico está em ruínas, coberta de eras. Mas se tiver tempo, e pernas, suba até à Capela de S. Martinho que fica na encosta contígua à Praça. A razão da sugestão não é pela capela, mas por ser um bom local para fazer umas fotos e apreciar a beleza do entrelaçado dos telhados da parte medieval da cidade.
Bom, já que está perto, porque não subir até ao Castelo? (Se o fizer de AC suba e desça pela rua junto ao Mercado e não pela estreita Rua Direita do núcleo histórico). O castelo de Pombal integrou a linha de defesa das terras de Coimbra contra os mouros no período da formação de Portugal, e acolheu os membros da Ordem dos Templários, antes mesmo da construção da sua sede em Tomar. O interior do castelo está muito destruído, mas é um bom local para do alto das suas ameias ter uma ideia da configuração espacial da cidade.
Depois da passeata imagino que almoçar lhe pareça uma boa ideia. No Mercado Municipal encontrará algumas iguarias para o efeito. Sugiro uma morcela de arroz (grelhada) e um queijo Rabaçal (à venda no topo oeste do Mercado), aliás 2 queijos: um semi-curado (daquele que trouxe até à Corte de Lisboa a fama deste queijo) e outro fresco (que deve comer nos dois dias seguintes, com um naco de broa e uma pitada de sal e pimenta).
No talho do interior do Mercado aproveite para comprar uns quilos de “ossos”. Isso mesmo, ossos! Cubra-os de sal de um dia para o outro (sem receio de os salgar) na altura de os cozer passe-os por água e coza-os apenas com umas malaguetas, um pouco de hortelã... e um chouriço regional. Deixe cozer até a carne se soltar dos ossos, e depois de apurar algum tempo (uma hora...), atire-se a eles acompanhando apenas com broa, ou com migas regionais (broa, couves/nabiças migadas, um pouco de feijão frade e muito azeite). Será melhor não esquecer o vinho a gosto. Se eu estiver por perto convide-me para o manjar.

Se as circunstâncias se não proporcionarem a estes preparos então tem várias opções. A solução requintada, consagrada (e um pouco mais cara), que é o Manjar do Marquês. Se é da fama tradicional que quer beneficiar então opte pela parte do Snack-bar em vez do salão de restaurante. Comerá de forma diferente, comerá melhor e mais barato. Aqui terá arroz de tomate à descrição (uma delícia), croquetes, chamuças, panados, bacalhau frito, ... (no final só paga as peças que comer). Peça as migas da casa, por norma apenas servidas no restaurante, mas que não lhe serão recusadas. O Manjar fica à saída da cidade na estrada para Coimbra, e tem espaço de estacionamento.
Se prefere algo mais pacato, sugiro-lhe o “Caça Foices” (na Rua de Ansião, junto ao Mercado Municipal), ou a “Velha Caroca” no lado norte da Escola Secundária (ambos perto do terceiro estacionamento que indiquei). Na “Viúva do Mota”, Rua de Albergaria dos Doze, encontra uma opção mais tipo tasca mas com comida caseira e em conta. Com sorte encontrará aqui os tais “ossos” de que falei. Se estiver numa de se despachar, junto aos Bombeiros Voluntários (Rua de Coimbra) pode optar por uma piza ou por adquirir na churrasqueira local um frango assado ou um naco de entrecosto grelhado, ... e levar para a autocaravana para complementar o queijo rabaçal.
Terminado o almoço, se a opção não for a sesta, tem várias possibilidades. Se for para Norte, antes do leitão na Bairrada pode optar por fazer uma visita às ruínas de Conímbriga (onde pode pernoitar em paz).
Se precisar de fazer a manutenção, a 10 kms tem uma área de serviço: junto ao campo de futebol de Vermoil (N39º51’04; W8º39’41). Siga pela N1 na direcção de Leiria e na Ranha vire à esquerda até ao centro da freguesia de Vermoil.
Se não precisa de passar pela AS, então, depois da serra, deixe-se seduzir pelo mar. Aponte ao Louriçal (se for Domingo aproveite para sentir a algazarra da feira e comprar uns biscoitos do Convento confeccionados pelas próprias freiras) e depois siga para o Carriço. Aqui procure o caminho para a praia do Osso da Baleia (N40º00’13; W8º54’52) e experimente a sensação de estar numa praia deserta, com um areal a perder de vista, perdida nos confins da mancha florestal do Pinhal do Urso. Se gosta da costa atlântica... então esta praia foi feita para si (para mim não, que aquilo é um gelo).


Ao regressar à estrada nacional 109 rume a norte direcção a Leiria. Cerca de um km depois de passar no centro da Guia faça uma paragem na Casa dos Leitões da Guia. Nem que seja só para uma sandes de leitão. Depois da praia vai certamente gostar (e antes também!). Aconchegada a barriga sugiro que em Monte Redondo abandone a N109 e siga para Coimbrões até à Praia do Pedrógão (onde tem uma AS no camping que pode usar sem pernoitar). Descontraidamente faça a via que liga Pedrógão à Praia da Vieira (possibilidade de pernoita com usufruto de WC público junto ao mar).

Se lhe apetece uma mariscada ou bom peixe fresco está no sítio certo. Em plena Av. Marginal tem boas opções. Por exemplo o restaurante “O Coelho”(?) por debaixo do hotel, ou, mais barato, “O Pescador”(? aquele que tem uns degraus para aceder ao interior:N39º52’26; W8º58’22). Mas não faltam alternativas nas ruas contíguas.



Quem está na Vieira não pode deixar de passar por S. Pedro de Moel e calmamente calcorrear os trilhos das arribas do Farol até à praia central (também pode fazer o percurso Vieira-S. Pedro de bicicleta, todo ele em pista dedicada).
Em S. Pedro de Moel não faça nada, escolha um dos muitos locais possíveis que lhe agradem e... simplesmente deixe-se ficar: leia, medite, contemple a paisagem, converse... enfim, usufrua deste lugar fantástico e deixe-se envolver na sua inevitável neblina matinal até que o pôr-do-sol o acorde do sonho. Se gosta de acampar, o parque local da Orbitur parece-me uma boa opção (quanto mais não seja pela densidade de pinheiros, mas não só). Na hora de partir lembre-se que o centro da Marinha Grande merece uma visita. Daqui pode optar por dirigir-se à Nazaré-Alcobaça, ou por visitar o interessante castelo-residencial de Leiria indo pernoitar na área de serviço da Batalha, mesmo nas traseiras do majestoso Mosteiro.

Bom, acho que por hoje chega de passeio. Atreva-se a aceitar o meu convite, vai ver que não se arrepende. Desfrute!

Raul Lopes

segunda-feira, 30 de março de 2009

Venha visitar a minha terra: ABIUL

No sopé da Serra da Sicó o primeiro fim-de-semana de Agosto é sempre diferente dos outros dias do ano. Há séculos que assim é. Ao raiar da aurora, de todos os trilhos, venham eles do vale ou da serra, surgem mulheres de cores garridas e homens de fato de mostrar a Deus. Na mão, ou à cabeça, transportam consigo os sacos com o almoço melhorado que as Festas do Bodo impõem. O melhor coelho ou o maior galo da capoeira terá sido sacrificado na véspera. Nestes dias as aldeias vizinhas despovoam-se e o único destino é Abiul (N39º52’32; W8º32’20).
Desde o séc. XVII que aqui se localiza a praça de touros mais antiga de Portugal e uma das mais antigas da Península Ibérica, razão suficiente para que anualmente aqui se realizem duas corridas de touros com carteis seleccionados de entre os melhores interpretes da arte.

O ritual começa pela manhã. No largo da aldeia apreçam-se os primeiros melões do ano, do tipo casca rija de carvalho. Protegidos do sol pelos ramos de uma oliveira ou de um carvalho, lá se vai esquartejando o melão enquanto do alto se assiste à chegada dos touros, conduzidos a pé pelos campinos desde a parte baixa da aldeia. Noutros tempos o percurso era mais longo e os touros pernoitavam a 2 kms da Praça, num local que ainda hoje ostenta o nome de Touril. Entretanto chegam os cavalos com o seu ar distinto, ninguém ficando indiferente à sua passagem.
Tirando partido da permeabilidade das bancadas construídas com tábuas de madeira suportadas por troncos de pinheiro, os miúdos trepam para a parte superior dos curros de onde assistem ao manuseamento e preparação dos touros para a lide. Mesmo ao lado escovam-se e enfeitam-se os cavalos.
Chegada a hora, as casas do centro da aldeia abrem-se de par em par para nelas se improvisarem casas de pasto onde os visitantes degustam os seus farnéis e aguardam pela hora do início da tourada. Mais tarde, no primeiro andar de uma delas haverá um baile animado a acordeão que até de madrugada mobilizará todos os jovens das redondezas, assim como as mães encarregues de vigiar de perto os movimentos das filhas.


Pela mão do meu avô, que exibia este gesto como a atribuição de um prémio de bom comportamento, muitos foram os anos da minha meninice que tomei parte deste ritual colectivo. Claro que a Praça de Touros, agora reconstruída (mas continuando a ter como únicos lugares à sombra aqueles que o velho carvalho protege da canícula), continua no mesmo sítio. E todos os primeiros fins-de-semana de Agosto se continuam a realizar touradas em Abiul. Mas o resto do colorido faz tempo que se perdeu. Agora os touros, os cavalos e as pessoas vão de carro até junto da Praça pouco antes da hora aprazada. Terminada a tourada, depressa a aldeia se esvazia.
Apesar disso, Abiul continua a ser um bom local para iniciar a visita ao concelho de Pombal. Esta terra que até 1821 foi sede de concelho fica junto ao IC8, a menos de 10 kms de Pombal no sentido Castelo Branco, Tomar… Se gosta de “maranhos” então ao passar por Abiúl entre na tasca que fica nas traseiras da farmácia (junto à igreja) e compre uns “tortulhos”, versão local dos maranhos, que era um petisco incontornável dos casamentos populares na zona. Depois, desça (a pé) ao núcleo medieval da aldeia onde pode ver o Paço dos Duques e o forno do povo, local onde se cozia a Fogaça do Bodo confeccionada com 12 alqueires de trigo. Até 1913 colocada a fogaça no forno havia um homem que lá entrava e dava três voltas ao bolo com um cravo na boca, saindo ileso.

Mesmo ao lado do forno ainda é visível o que resta do palanque dos duques de Aveiro, testemunho do tempo em que a tourada se realizava no largo do forno. Para além de alguns pormenores da arquitectura desse núcleo, esteja atento aos candeeiros suspensos das paredes, que em tempos iluminavam as ruas… a azeite. Por falar em azeite, se a passagem ocorrer na altura da apanha da azeitona, mostre aos seus filhos um lagar em funcionamento (o único que sobrevive de entre uma imensidão de outros que por aqui havia). Este lagar localiza-se num edifício discreto à saída da aldeia no sentido de Vila-cã (pelo caminho de Touril).


Concluída a visita rume a Pombal. A meio caminho faça um pequeno desvio e visite uma aldeia medieval ainda habitada: a Aldeia do Vale (acesso pelo IC8, na zona onde a serra da Sicó é mais visível).


(Continua...)

Raul Lopes

sexta-feira, 27 de março de 2009

A MISÉRIA DO AUTOCARAVANISMO...

O que mais dói na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma. Confrontados com a ausência de tudo, os homens abstêm-se do sonho, desarmando-se do desejo de serem outros. Existe no nada essa ilusão de plenitude que faz parar a vida e anoitecer as vozes.

Quem o disse foi Mia Couto, esse grande cultivador e recriador da língua portuguesa e do imaginário africano. Não me consta que o escritor seja autocaravanista, mas se o fosse por certo seria capaz de escrever algo assim:

O que mais dói no movimento autocaravanista é a ignorância que ele tem de si mesmo. Confrontados com a ausência de tudo, os autocaravanistas abstêm-se do sonho, desarmando-se do desejo de serem outros. Existe no nada essa ilusão de plenitude que amarrará autocaravanas nos campings enquanto as vozes vão anoitecendo. É a liberdade que se consome na negação do prazer da itinerância em liberdade.

Afinal este é um tema recorrente: a alienação individual que tolhe e bloqueia essa força enorme do ser colectivo.
Alexandre Herculano bem lembrou que “querer é poder”. Mas para querer é necessário fazer esse penoso caminho de libertação do espírito que é romper com as amarras que nos alienam e torna prisioneiros de nós mesmos.
Para “querer” é necessário adquirir consciência colectiva, como teorizou Marx no século XIX e mais recentemente John Friedman com o seu Empowerment escrito no final do século XX. Justamente a consciência que continua a faltar aos autocaravanistas para que o querer se possa transformar em poder. Para que o sonho possa virar realidade, para que o nada dê lugar ao usufruto da liberdade de ser autocaravanista itinerante.
Claro que para isso precisamos de instituições que nos representem e que dêem voz ao nosso querer, mas de nada servem as instituições se elas não forem servidas por pessoas esclarecidas e conscientes da tarefa que têm pela frente. Enquanto individualmente nos entregarmos ao prazer da alienação abstendo-nos do sonho e do desejo de sermos outros... é a própria realidade que resta um sonho adiado.
O último número do Boletim do agrupamento de escuteiros do CPA é bem o espelho desta miséria em que definha o autocaravanismo: será que as pessoas não têm memória nem espinha vertebral? É por isso que cada dia que passa é maior o silêncio que recebem como resposta. Estranhamente, ou talvez não, permitem-se interpretar o ensurdecedor silêncio de desprezo como manifestação de apoio:
O que mais dói na miséria é a ignorância que ela tem de si mesma.

Já tarda o momento da clarificação. Há vozes que vão anoitecendo, sentindo o vazio da vida que pára, sentindo que alguém nos arrasta por trilhos estreitos que conduzem a lado nenhum.
Autocaravanistas, acordai antes que seja tarde!
Raul Lopes
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quinta-feira, 26 de março de 2009

No CPA, quem é o Senhor que se segue?

Há qualquer coisa de errado na cultura organizacional do CPA. O Clube em vez de uma força aglutinadora revela-se um triturador de competências e boas-vontades. Cingindo-me apenas ao topo dos órgãos sociais, e sem preocupações de exaustividade, facilmente verificamos ser esta uma característica do Clube. Ora vejamos.
O primeiro Presidente do Clube abandonou-o em conflito com o Presidente que lhe sucedeu, igualmente seu sócio-fundador. Este, por sua vez, acabaria expulso do CPA pela mão de Ruy Figueiredo, o terceiro e actual presidente da história do Clube.
Durante a dinastia de Ruy Figueiredo, para além do anterior Presidente, saíram do Clube, em ruptura com ele, o presidente do Conselho Fiscal e um dos dois sócios de mérito do CPA.
Ruy Figueiredo teve 3 vice-presidentes diferentes. O primeiro afastou-se do clube (demitiu-se entretanto?) em conflito com Ruy Figueiredo. O segundo (eu próprio), saiu do CPA empurrado por ele (de braço dado com os seus amigos). O terceiro vice-presidente, o actual, simplesmente hibernou, pois se ainda está em funções ninguém deu por isso (e não será por falta de experiência nem de competência para certas funções).
Se Ruy Figueiredo é o personagem conciliador, cordato e simpático que a imagem pública dele transmite, então como se explica que pela sua mão tenham saído do clube, entre outras, as pessoas que antes referi, pessoas que cada uma à sua maneira deixaram bem vincada a sua passagem pelo CPA? Isto devia dar que pensar àqueles que dizem preocupar-se com o futuro do Clube, mas esses preferem atirar pedras e espalhar cascas de banana pelo caminho.
Se o CPA não for capaz de reflectir seriamente sobre a sua cultura organizacional, então o melhor a fazer será começar a receber apostas sobre quem será o próximo a ser enxotado do Clube. Será o próprio Ruy Figueiredo o senhor que se segue? Por enquanto a sua cabeça vai sendo exibida na praça pública como troféu de caça tanto no CPA como fora do Clube, especialmente no MIDAP (e não só). Mas chegará o dia em que a sua cabeça deixará de ter utilidade no jogo das marionetas e será então retirada para a parede de uma qualquer recondida sala de troféus. Querem apostar?

Para quem tenha acabado de chegar, quero lembrar que não é de agora que levanto esta questão. Já na Primavera de 2008, quando ainda era sócio do CPA, questionei os responsáveis do Clube, sobre: Quem anda a tentar reescrever a história do CPA? Também nessa altura alertei os sócios de que havia quem estivesse a empurrar-me para fora do clube, o que não era uma originalidade. Fica aqui a transcrição de parte dessa mensagem.
Com resposta ou sem ela, as perguntas aqui ficam (a propósito Ruy, continuo à espera da resposta da Direcção aos meus emails das últimas semanas). É que mal avisados andam aqueles de curta memória que pensam que as instituições sem história nem memória colectiva podem ter futuro. Estranho sentido de gratidão se cultiva neste Clube. Não admira que não haja nem um sócio activo no CPA de entre aquelas que nos últimos 18 anos foram dirigentes. Aliás, os Presidentes anteriores ao Ruy Figueiredo (felizmente vivos) já não estão no CPA. Agora há quem me esteja a empurrar para fora do Clube, porquê? Porque fui vice-presidente. Assim não vamos lá (por muito que alguns pulem de contentes).
Ruy, daqui te
deixo o apelo: pára para pensar o rumo que estás a dar ao CPA e no propósito (ou despropósito) dos conselhos que certas pessoas te dão.
É forçoso concluir que Ruy Figueiredo não escutou o que lhe disse, pelo contrário, franqueou as portas de pare em pare àqueles que corroem os pilares do CPA.
A história se encarregará de julgar cada um conforme as suas responsabilidades. Para já registo com tristeza que na Assembleia Geral quem fala pelo presidente do CPA é Jorge Guimarães; no fórum e no Boletim é a mulher dele, Teresa Paiva, quem se substitui ao presidente; se é de áreas de serviço que falamos, então quem toma o lugar do presidente do CPA é o seu amigo Boaventura; se o assunto é o arraial de Abrantes quem surge em bicos de pés é o ZéVieira; finalmente, Nandin de Carvalho fala pelo presidente do CPA na Assembleia da República e onde mais se lembra (excepto quando despe a pele de sócio do CPA para se tornar na sombra tutelar do MIDAP ou do CAB ou do MONGA, ou do...). Agora, até o Cipriano campista foram buscar para reforçar a equipa dos que ocupam o palco que se impunha fosse ocupado por Ruy Figueiredo. Acontece que nem uma só destas pessoas foi eleita para a Direcção do CPA. Daí que se estranhe como podem ser elas a mandar no Clube, contando para tal com a cumplicidade do presidente. Não haverá no CPA quem veja que ao procederem como vêm fazendo estão a fazer de Ruy figueiredo um "presidente faz de conta"?

Depois ainda há quem se admire por Ruy Figueiredo ter sido olimpicamente ignorado quando recentemente veio ao fórum (coisa rara!) fazer um apelo. É sintomático que nestas semanas tenha havido menos pessoas interessadas em ler o que escreveu Ruy Figueiredo do que aquelas que diariamente vêm ler a Tribuna. E nem um só lhe respondeu. Que os sócios deixem a falar sozinho o Nadin de Carvalho ignorando "as mensagens" que teima em colocar no fórum, é absolutamente natural. Exprimem desta forma o desprezo que tal personalidade lhes inspira. Mas concederem ao seu Presidente o mesmo tratamento já não é natural e devia dar que pensar, a começar por Ruy Figueiredo, que não soube dar-se ao respeito e já começa a pagar por isso.
Este é parte do preço a pagar por quem se deixa envolver no jogo daqueles para quem parece que vale tudo, como se o autocaravanismo fosse a encenação de um filme à americana com polícias, ladrões, advogados, juízes e testemunhas abonatórias com depoimentos de conveniência. Há quem se esqueça que a realidade não deixa de o ser por mais que se fantasie.

A ver vamos o que se seguirá. Pela minha parte, em nome da memória de uma relação pessoal, apenas digo: Ruy, já que não soubeste retirar-te de cena na altura certa, agora tem cuidado com as cascas de banana... ou poderás ser o senhor que se segue, mais cedo do que supões.

PS.
Faço notar que, mais uma vez, não fiz ataques pessoais a ninguém. Limitei-me a alinhar factos e a dar opiniões sobre eles. Reconheço que há verdades que incomodam, mas são apenas factos.

Raul Lopes
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quarta-feira, 25 de março de 2009

IV Gesto Eco-Solidário


A edição de 2009 do Gesto Eco solidário vai se realizar de 27 a 29 de Março. Este ano para além da habitual plantação de árvores na Serra de São Macário será inaugurada a Área de Serviço de São Pedro do Sul.

Espero que a comunicação social tão lesta a reportar os maus exemplos que os autocaravanistas cometem junto ao litoral, não se esqueçam agora da sua missão de formação e informação e publicitarem os excelentes exemplos, como é o caso deste IV Gesto Eco-Solidário.

O programa é o seguinte:

Dia 27 - 6ª feira

A partir das 14h30m – Acolhimento no Largo da Feira que fica no fim da AV. Conselheiro José Vaz, S. Pedro do Sul. Coordenadas 40º 45’ 50’’ N 08º 03’ 51’’ W. Enquanto aguardamos a chegada de todos haverá animação musical e a Estação de Artes e Sabores encontrar-se-á aberta e à nossa disposição

dia 28 - sábado

10 às 12h – Jogos tradicionais e para os amantes da caminhada, na companhia de guias, iremos descobrir recantos de S. Pedro incluindo alguns locais aconselhados para estacionamento e pernoita dentro da vila.
12h às 14h 30 – Almoço livre
15h – Partida de autocarro para as Termas
15h 30 – Inauguração da Estacão de Serviço ao que se segue a visita guiada ao complexo termal
19h30 – Jantar no Hotel Rural Sollar do Banho situado à beira rio e tem como origem uma das primeiras casas a hospedar pessoas enquanto faziam os seus tratamentos termais.

dia 29 - domingo

9h 30 – Partida para S. Macário. Plantação simbólica de árvores e visita às que desde 2006 aí temos vindo a plantar. Realização de fotos para mais tarde recordar.
12h - Almoço Convívio “Sopa de S. Macário”

terça-feira, 24 de março de 2009

Vamos divulgar as nossas terras?


Todos nós temos “a nossa terra”. Por vezes até temos mais do que uma. Ora porque é onde vivemos, ora porque foi lá que nascemos, ora porque gostamos tanto do sítio que o adoptamos como a “nossa terra”.
Pois bem, o desafio da TAC é este: vamos juntar o útil ao agradável. Para o desenvolvimento local é útil que os autocaravanistas contribuam para o desenvolvimento turístico das nossas terras, visitando-as; para os autocaravanistas é agradável sentirem-se em casa quando visitam um certo local, sabendo exactamente o que visitar, onde comer, onde dormir, etc..
Podemos juntar as duas coisas. Basta que cada um de vós se disponha a escrever um pequeno texto em jeito de quem diz aos autocaravanistas: Venham visitar a minha terra, ... são meus convidados.
Com base no conhecimento que dispõem das vossas terras (cidade, concelho, região) imaginem o trajecto que fariam em autocaravana se andassem a mostrar a terra a uns amigos autocaravanistas. Sublinhem o que não devem deixar de ver em cada local, e acrescentem-lhe aquelas dicas que todos nós sentimos muito úteis quando viajamos. Por exemplo:
[*] Onde estacionar-pernoitar;
[*] Tascas e petiscos regionais a não perder;
[*] Artesãos.... e outros testemunhos da cultura local;
[*] Festividades e eventos culturais a ter em conta;
[*] Percursos de interesse a fazer pela região;
[*] Sites e outras fontes de informação de utilidade turística;
[*] Etc.
Ainda está ai? Mas de que está à espera para começar a escrever?
A Tribuna Autocaravanista é o espaço da internet mais lido pelos autocaravanistas portugueses. Vamos usar esta montra para ajudar os autocaravanistas a usufruírem das suas viagens, ao mesmo tempo que promovemos o desenvolvimento das nossas terras. O sucesso da iniciativa só depende de si companheiro(a). Venham de lá esses textos!
Contamos consigo, envie os seus contributos para este e-mail: tribuna.autocaravanista@gmail.com

segunda-feira, 23 de março de 2009

CARNAVAL: à roda do grande lago

Aproveitando a faculdade de uma “ponte” no calendário e um tempo excelente, decidimo-nos por um “Carnaval” diferente. Na verdade nunca apreciámos os festejos carnavalescos e por isso optámos por uma visita às terras em volta do Alqueva.
As condições meteorológicas não podiam ter sido melhores. À parte um arrefecimento nocturno significativo, normal para a época do ano, os dias “sorriram” para todos os que por ali andámos. Um sol radioso, uma temperatura amena, confortavelmente acolhedora, e a ausência total de vento, proporcionaram-nos as melhores condições para usufruir dessa sensação de liberdade que o autocaravanismo sempre nos proporciona.





A ansiedade era tanta que não esperámos para sábado. Depois de jantarmos na 6.ª feira, aprontámos as coisas essenciais para 4 dias “on the road” e lá seguimos rumo a Grândola, onde pernoitámos num grande parque de estacionamento existente nas redondezas do “Modelo”. Embora não tivéssemos a companhia de outras autocaravanas, parece-nos adequado o lugar, tendo noite sido calma e em silêncio absoluto, permitindo um bom sono.
Na manhã seguinte, após o pequeno almoço, já com o pão e os bons queijos alentejanos comprados no hipermercado, retomámos a estrada.



Antes de rumarmos ao “grande lago”, por razões particulares, fizéssemos uma prévia visita ao Centro de Interpretação Ambiental da Liga de Protecção da Natureza existente na Herdade do Vale do Gonçalinho em Castro Verde, onde estão disponíveis trilhos destinados à observação da avifauna que, por esta altura, entra em grande actividade. Na zona podem ser observadas aves pouco comuns como o sisão e a abetarda.

http://www.lpn.pt/LPNPortal/DesktopModules/SubPaginaProgramasDetalhes.aspx?ItemId=18&Mid=40&ParentId=6


Terminada a breve visita, parámos para almoçar na localidade de Entradas, a poucos quilómetros de Castro Verde, na estrada que segue para Beja. Entrámos na “Cavalariça”, um restaurante típico de cozinha regional que nos serviu umas deliciosas migas a acompanhar presas de porco ibérico grelhadas, não sem que antes nos tivéssemos deliciado com uns torresmos do “rissol” fresquíssimos, os melhores que já alguma vez degustei. A qualidade elevada da cozinha deste restaurante acaba por justificar o preço relativamente elevado das doses.
Cá fora, um pequeno passeio pelas ruas desta vila, tipicamente alentejana, permitiu iniciar uma digestão que se previa mais demorada e, também, tomar contacto com os preparativos do festival cultural Entrudanças, que iria trazer à pacata localidade dias de maior animação – alguns grupos de crianças já cantavam organizadamente pelas ruas, onde várias tendas de artesanato acabavam os preparativos para a inauguração da pequena feira.




A paragem seguinte foi em Serpa, localidade que já visitámos várias vezes, mas onde sempre gostamos de retornar. Estacionamos a autocaravana no parque fronteiro ao camping existente. Já várias vezes o fizemos, tendo pernoitado por ali, sem qualquer problema e foi o que aconteceu, também, desta vez.
O pequeno parque de campismo existente é, também, acolhedor, e nele chegámos a ficar quando permanecemos mais do que uma noite em Serpa, o que não seria o caso vertente.



Passeamos pela vila cuja arquitectura sempre nos encantou, tal como as muralhas e o pequeno jardim onde, numa das entradas, existem umas oliveiras certamente centenárias, a julgar pelos grandes e “elaborados” troncos que exibem.


Uma queijada típica fez-nos companhia pelas ruas de casas brancas, onde algumas com artigos regionais sempre nos abrem o apetite. É difícil resistir ao queijo e requeijão, aos enchidos, aos doces, mel, azeites, vinhos e artesanato tão rico.
Regressámos à autocaravana já a noite se instalava para, no aconchego da nossa “casinha itinerante”, prepararmos um “ligeiro” jantar com as iguarias adquiridas, seguido de um já ansiado serão a jogar à “sueca” em família e a ver um DVD antes do merecido sono.



O dia seguinte, domingo, amanheceu solarengo e nós acordámos ao som do chilrear dos diferentes passarinhos que por ali vivem, despertando lentamente para mais um dia de lazer. Depois do pequeno almoço de queijo fresco de cabra e requeijão de ovelha, partimos para mais um “round” pela vila, abrindo o apetite para o programado almoço na Adega Molhó Bico, sugestão acertada do companheiro Raul. A relação qualidade preço não podia estar mais perfeita.
Como éramos 4 à mesa, optámos por pedir quatro variedades para partilharmos. Após uma meia hora de espera na sala de entrada, lá conseguimos uma mesa onde rapidamente pudemos iniciar o “molhó pão” no azeite, na “manteiga de cor” e saboreando umas boas azeitonas, que nunca dispensamos, preparando o estômago para um “festim” de variedades alentejanas.

Serviram-nos então a feijoada de lebre, a carne de porco com cogumelos, as migas com carne e as bochechas de porco assadas no forno e conhecidas aqui como “carrilhada”. Todos os pratos estavam “no ponto”, mas mereceu destaque, por unanimidade, a carne com os cogumelos de um sabor requintado. No final, a sericaia com doce de ameixa deixou-nos “arrumados” e a “sonhar” com a próxima visita.



Com a satisfação estampada nos rostos, seguimos viagem para a Aldeia da Luz, a nova aldeia mesmo à beira do “grande lago” onde viemos a pernoitar.








Lá chegados, fomos estacionar na AS e pernoita que nos está destinada, com vista sobre o “lago” e num lugar que permite a visualização de um demorado por-do-sol. Cerca de uma dezena de autocaravanas, na maioria portuguesas, já ocupavam uma parte significativa do largo. Feitos os despejos e o reabastecimento de água limpa, fomos passear até ao ancoradouro, onde mais um grupo de autocaravanas se encontrava estacionado e os seus ocupantes a… fazer campismo!
Destes comportamentos já mais nada há a dizer, tal como o facto de termos encontrado a pia de despejo para sanitas químicas na AS, em boa hora promovida pelo Camping Car Portugal, completamente entupida, fruto de lamentável utilização indevida.


A AS, de concepção simples, é relativamente prestável, mas tivemos que fazer algumas manobras para acertar com o buraco circular e central destinado ao despejo de águas residuais. Com a mesma simplicidade e custo, o recurso a uma grelha transversal, à largura do espaço demarcado, facilitaria o despejo a todo o tipo de veículos.
À noite, mais um serão de “sueca”, música suave e boa disposição fizeram companhia às iguarias alentejanas - versão II – queijo de ovelha fresco e curado e paio do lombo de porco preto, acompanhado de pão e tinto a condizer.

Na segunda-feira esperava-nos o espectáculo deslumbrante sobre o “grande lago” a partir do alto de Monsaraz. Esta localidade inserida entre muralhas de um castelo alcantilado no cimo de um monte de onde se permite uma imagem quase única no panorama português. O “grande lago” espraia-se à esquerda e à direita da entrada principal. Os parques de estacionamento existentes no exterior são de acesso adequado às autocaravanas.




No interior do castelo passeamos calmamente admirando as velhas construções, no geral bem cuidadas, onde portas e janelas de formas ancestrais despertam a nossa curiosidade. Das ameias do castelo o olhar perde-se em redor dos 360º permitidos e até onde a vista alcança.



Cansados mas satisfeitos, deixámos esta terra que nos fez lembrar outras paragens igualmente aprazíveis e similares – Marvão e Óbidos – para dar dois exemplos, embora esta última tenha cedido à voracidade do consumismo para “inglês ver”.





Após o almoço na autocaravana, fomos tomar o café na esplanada da “marina” da Amieira, um local agradável de onde saem mini cruzeiros de barco pelo grande lago, ou voos num pequeno hidrovião.



A noite foi passada junto ao ancoradouro existente na proximidade do “paredão” da barragem do Alqueva, na companhia de mais 4 autocaravanas, em posição de deleite perante o espectáculo de mais um deslumbrante por-do-sol.



Na terça-feira acabou por “amanhecer tarde”, talvez por causa do irremediável regresso a casa, que embora agradável, nos deixa num estado misto de nostalgia, pelo que agora deixamos, e de ansiedade por um regresso seguro “às origens” e ao “lar doce lar”.

Laucorreia








sexta-feira, 20 de março de 2009

Quem anda a enganar quem no autocaravanismo?

Durante esta semana passámos aqui em revista algumas das trapalhadas e malabarismos com que o "movimento transversal" dos autocaravanistas nos tentou fazer crer que são os salvadores da pátria do autocaravanismo. Para finalizar a semana escolhemos o tema das reuniões entre o MIDAP e o Turismo de Portugal.

Em Dezembro último uma delegação dos “autocaravanistas sérios” reuniu-se com dois técnicos do Turismo de Portugal e descreveu assim a reunião:

"Neste contexto, foi sublinhado o entendimento aliás maioritário no sector, de que a recente legislação sobre turismo do espaço rural e a portaria sobre parques de campismo apenas se aplica as autocaravanas se e quando usadas como alojamento em campismo, e não em autocaravanismo itinerante.
Deste modo, a actividade do autocaravanismo que não implique a pratica de campismo continua, do ponto de vista oficial, livre e desregulamentada, sujeitando-se apenas à legislação genérica, designadamente ao código da estrada, e demais diplomas do domínio do ordenamento do território e ambiental e ainda às posturas municipais
."

Este arrasoado não faz sentido e é contraditório nos seus próprios termos. Para ver que assim é basta pegar no final da frase e lembrar que não faltam por ai “posturas municipais” que definem como sendo campismo a simples utilização da autocaravana no espaço público. Mas, ... fixemos a nossa atenção noutro aspecto: quem constitui o tal entendimento maioritário no sector? Será a AECAMP, a FCMP, o CPA, o CAB e o MIDAP??? Uma coisa é certa, o membro do Governo responsável pela publicação da Portaria não é certamente como no final poderemos constatar…

Mais recentemente e ainda segundo o MIDAP, graças aos “esforços desenvolvidos de forma desinteressada, e em regime de voluntariado dos seus colaboradores”, ficamos a saber que está em curso “pelo núcleo de apoio ao autocaravanismo criado neste departamento do Estado” (Turismo de Portugal) várias iniciativas que vão proporcionar melhores condições para a prática individual e em liberdade do autocaravanismo.

Em rigor podemos dizer que FINALMENTE concordamos em absoluto com o MIDAP. Realmente o “trabalho” aqui mencionado pelo MIDAP em conjunto com o Turismo de Portugal vai proporcionar melhores condições para a prática do autocaravanismo. Como todos sabemos dentro dos parques de campismo temos à nossa disposição energia eléctrica, água, casas de banho, lavandarias, e outras infra-estruturas que não encontramos num simples estacionamento de automóveis… Não pensem os nossos estimados leitores que estamos de algum modo a ser irónicos. É que a (triste) realidade é mesmo esta, as melhores condições que o Turismo de Portugal vai proporcionar (em colaboração com o MIDAP) é remeter as autocaravanas para os parques de campismo. Certamente que nos próximos dias teremos mais uma investida do MIDAP e respectivos voluntários colaboradores a tentar desviar a atenção dizendo que o assunto da Portaria 1320/2008 está já mais que esclarecido de que só se reporta ao autocaravanismo enquanto campismo e que todos os que não pensem assim estão a agir de má fé….

Pois bem, para além dos elementos da Tribuna, que não acham que esta portaria só regulamenta o autocaravanismo enquanto forma de campismo e que ela é altamente lesiva dos nossos interesses enquanto praticantes do turismo itinerante, existe pelo menos mais outra pessoa que (acreditando nas palavras do MIDAP) está a agir de má fé nesta questão. Essa pessoa é apenas o Secretário de Estado do Turismo (o membro do governo responsável pelo Turismo de Portugal e pela portaria 1320/2008), que nas sessões de esclarecimento sobre o Novo Regime Jurídico dos Empreendimentos Turísticos claramente indica que uma das novas modalidades do novo regime será o Autocaravanismo, a que, finalmente, é dada a autonomização face ao campismo, através da portaria 1320/2008….

Curiosamente esta informação está disponível no site do…Turismo de Portugal!!! Para aceder clicar aqui e ver o slide 13, que seguidamente reproduzimos.


E agora, quem engana quem? Serão os elementos desta tribuna que desde sempre alertaram para os perigos que a publicação da portaria traria para o autocaravanismo enquanto turismo itinerante, ou serão, os elementos do MIDAP que desde o primeiro momento se congratularam por terem ajudado a alterar (em prejuízo da nossa liberdade) a portaria?
Será isto apenas o resultado da incompetência e das trapalhadas próprias de quem entrou em frenesim para “mostrar serviço” escondendo a sua incapacidade para reflectir sobre autocaravanismo, ou será que existem outras motivações para sistematicamente andarem,
“simplesmente”, a mistificar a realidade tentando iludir os autocaravanistas?

Sabemos que no jogo político a demagogia não é crime, mas há limites para tudo, até para a demagogia. Todos temos presente que a justificação dada para a criação atabalhoada do MIDAP foi para ir a tempo de intervir na discussão pública da Portaria sobre campismo. Entretanto fizeram-no, com os resultados que estão à vista de todos, mas não revelaram capacidade para fazer o que quer que fosse de positivo (tão pouco mostraram saber sobreviver sem a protecção tutelar do fundador). Esgotado que está o projecto do MIDAP, não seria altura de decidirem acabar com a palhaçada e extinguir aquilo que verdadeiramente nunca existiu?

Seguramente esse seria o melhor serviço que actualmente o MIDAP poderia prestar ao autocaravanismo português.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Legislação sobre Autocaravanismo:... mais trapalhadas transversais

Quando se fala em legislação sobre autocaravanismo há duas posições igualmente legítimas e sensatas sobre o assunto. Há quem pense que a única maneira de impedir que as Autarquias Locais continuem a perseguir os autocaravanistas é obter do Governo legislação que reconheça os direitos dos autocaravanistas. Mas há quem duvide da possibilidade de se conseguir um adequado enquadramento legal e, consequentemente, pense que a melhor estratégia é não promover a criação de legislação nenhuma, o que nos permitirá continuar a ter no Código da Estrada o bastião da defesa do direito a circular e estacionar em liberdade. Nesta Tribuna já foram expressos estes dois entendimentos.

O que é inaceitável, por ser altamente perigoso para a preservação dos direitos dos autocaravanistas, é a criação de legislação avulsa, ora regulamentando um aspecto ora outro, particularmente sem a participação da comunidade autocaravanista na sua elaboração.

Ora, infelizmente foi isso que já se passou com a Portaria 1320/2008 que o Director do Gabinete de Estudos do MIDAP e outros dos seus "coloridos" membros analisaram de forma descabida e caricata chegando a afirmar tratar-se de legislação “apenas para parques de campismo com fins lucrativos”. Para além do mais, esta abordagem traduz uma confrangedora incapacidade para ler as consequências políticas da aprovação da referida Portaria.

Infelizmente, a via da alteração casuística foi também o caminho seguido pelo MIDAP quando foi para a Assembleia da República propor a alteração do Código da Estrada com o fim de nele incluir um sinal que defina as autocaravanas como uma categoria específica de veículos. Para ver como esta é uma ideia disparatada e irreflectida basta pensar que se tal acontecesse esse sinal iria servir principalmente para as Câmaras estabelecerem a proibição das autocaravanas estacionarem (e neste caso com suporte legal). Assim sendo a iniciativa do MIDAP é ... simplesmente mais uma trapalhada.

Mas as trapalhadas do círculo do MIDAP sobre legislação não se ficam por aqui.
A propósito da reunião na Assembleia da República entre a FCMP e a Subcomissão Parlamentar de Turismo, Nandin de Carvalho escreveu em Julho de 2007 algo com que concordamos. Dizia ele:
“… Assembleia da República, que assim fica reconhecida como um epicentro político responsável e interessado pelos fenómenos sociais, e que fica enobrecida pelo sua disponibilidade e estudo das matérais sobre autocaravanismo, remetidas para a responsabilidade de iniciativa de cada um dos grupos parlamentares, sendo que, em nossa opinião, cabe ao GP do PS, pela sua sintonia com o Governo, o dever de avançar e concretizar as iniciativas legislativas adequadas.”

Uma pessoa minimamente atenta, sabe que qualquer iniciativa parlamentar estará condenada ao fracasso se não dispuser do apoio do partido da maioria e era isso exactamente a que se aludia na passagem que referimos atrás. Por isso concordamos que a haver uma iniciativa parlamentar sobre o assunto tal iniciativa teria que envolver o grupo parlamentar do PS.

Contudo, 20 meses depois destas declarações e sem que a representatividade na AR tenha sido alterada, vêm gora dizer-nos que na sequência da visita do MIDAP à AR vai ser criada legislação especifica para o autocaravanismo, graças a uma iniciativa de dois deputados do PSD: Mendes Bota e Nuno da Câmara Pereira.

A “notícia” é tanto mais estranha quando surge a escassos meses do fim do mandato dos actuais deputados, nada garantindo sequer que sejam reeleitos nas eleições do próximo mês de Outubro. E está fora de questão que o que quer que seja venha a ser aprovado antes disso.

Assim sendo é inevitável que nos interroguemos: tudo isto não passa de mais uma das trapalhadas a que vamos ficando habituados, ou, mais grave, é uma jogada de demagogia político-partidária com antecâmara eleitoral, em jeito de quem tenta mostrar serviço para ganhar peso político nos bastidores manipulando e iludindo os autocaravanistas?

A resposta fica ao cuidado de cada um de vós. Mas talvez vos ajude saber que um dos deputados que agora nos é apontado como o herói salvador é o mesmo que em 2006 disse na reunião na AR ter visto no Algarve autocaravanas (a que chamou caravanas) estacionadas em “sítios turisticamente atractivos” (depreende-se que tais sítios deviam ser proibidos aos autocaravanistas), tendo ainda considerado “que os parques de campismo são locais seguros e fora deles seria inseguro estacionar autocaravanas.”

Depois destas considerações, quem tem dúvidas sobre quais são os locais que o senhor deputado considera adequados para as autocaravanas pernoitarem?
Nós não temos, por isso dizemos: oxalá as trapalhadas do MIDAP-Carvalho não tenham continuidade na acção destes deputados do PSD.

Como dizia a canção: pra melhor, está bem, está bem. Pra pior já basta assim!

quarta-feira, 18 de março de 2009

Porquê envolver a GNR nas trapalhadas do MIDAP?

Para o comentário de hoje da TAC, elegemos a mais recente excursão do MIDAP. Desta vez a visita foi ao Quartel do Carmo em mais uma iniciativa espalhafatosa de que não resulta qualquer proveito para os autocaravanistas, mas apenas e tão só, mais um banal desfile público de vaidades, que o uso de maquilhagem envolvente não disfarça e que só impressiona quem pela sua cabeça não pensar. Resultados concretos? Só o risco de efeitos colaterais que fazem dos autocaravanistas as principais vítimas.

O comunicado da delegação dos autocaravanistas “bem formados” presentes na reunião de trabalho com a GNR deixa-nos com uma simples e singela dúvida. O que foram realmente lá fazer? É que as conclusões referidas não acrescentam nada ao que o CPA já em 2006 tinha obtido, com uma ligeiríssima diferença: o CPA obteve por escrito todos os esclarecimentos devidos do Comando Geral da GNR.

Aqui reproduzimos o ofício com os esclarecimento da GNR divulgados em 2006 pelo CPA através de uma Press Release e no Boletim “O Autocaravanista”:

(Clicar na imagem para aumentar)

Para uma melhor compreensão do ofício, reproduzimos as questões colocadas em Setembro de 2006 pelo CPA através de uma carta então enviada ao Comando Geral da GNR:

1. No caso das autocaravanas com menos de 3500Kg, as regras aplicáveis à circulação e estacionamento das autocaravanas são distintas das aplicáveis aos restantes veículos ligeiros?

2. A adopção pelos municípios de normas de regulação do estacionamento na via pública que discriminam as autocaravanas, proibindo o seu estacionamento, tem suporte legal?

3. A verificar-se a legalidade do procedimento anterior, qual da sinalética definida pelo Código da Estrada deve ser afixada no local? Em particular, qual o suporte normativo para placas de sinalização vertical onde por debaixo do normal sinal de proibição de estacionamento surge a inscrição “autocaravanas” e/ou um desenho estilizado de uma autocaravana, quando não de uma caravana?

4. Existe alguma norma legal que imponha uma distância mínima a partir de um Parque de Campismo para uma autocaravana poder estacionar (no respeito pela lei geral de estacionamento de veículos ligeiros)?

5. Existe alguma norma legal que proíba que se pernoite no interior de um veículo ligeiro, nomeadamente de uma autocaravana, quando legalmente estacionado no espaço público?

6. Com que fundamento legal se pode considerar que os ocupantes de uma autocaravana estão acampados se esta estiver legalmente estacionada e, cumulativamente, não se encontrar a derramar qualquer tipo de fluído nem de alguma forma a ocupar um espaço para além do perímetro dos limites físicos do veículo?

Como facilmente se constata a delegação do MIDAP limitou-se a copiar as questões colocadas pelo CPA e a transmitir os esclarecimentos da GNR como se fossem pela primeira vez obtidos. Por várias razões esta reunião mais parece uma fantasia à maneira das "mesas redondas sobre autocaravanismo" protagonizadas pela Lady Nokia e companhia.

Para os autocaravanistas mais desatentos, esta nova “trapalhada” do MIDAP pode-se revestir de alguma gravidade pois são fornecidas informações que não correspondem à verdade. A GNR nunca poderia dizer que “considera ainda que não existe nenhuma lei que proíba o uso de calços nas rodas das autocaravanas. E ainda, que não existe nenhum normativo legal que obrigue as autocaravanas a recolherem a parques de campismo...” Usar este argumento com um agente da autoridade é criar um conflito gratuito que em nada nos beneficia.

Com efeito, esta afirmação não pode ser atribuída a um responsável da GNR pois este sabe que existem regulamentos e posturas municipais (que a GNR faz cumprir) que proíbem exactamente estas situações. Infelizmente existem vários exemplos, como Esposende, Espinho, Vila do Conde, Vila Real de Sto António e Odemira entre outros. Por exemplo, no município de Odemira o aparcamento de viaturas com a finalidade de pernoitar só é permitido nos parques de campismo e nos locais definidos para o efeito e devidamente identificados, mediante pagamento de taxa, quando afixada. Até há existência de locais definidos para o efeito, só é permito a prática nos parques de campismo. Este normativo legal foi publicado em 2004 em Diário da República, mantendo-se ainda em vigor. Com a entrada em vigor da Portaria 1320/2008, entende-se claramente de que tipos de locais definidos para o efeito, serão considerados pelo município de Odemira...

Neste regulamento estão ainda definidas as seguintes situações:
Estacionamento: Fora dos locais destinados ao aparcamento apenas é permitindo o estacionamento de viaturas, não sendo permitido o aparcamento, assim definido:
Aparcamento: Será considerado aparcamento sempre que se verifiquem uma ou mais das seguintes situações:
- Arrear os estabilizadores e colocar calços, etc.


Ou seja, no território nacional existem locais em que a utilização de calços na via pública é proibida e que o único local para as autocaravanas estarem é nos parques de campismo, ao contrário do que o comunicado do “movimento transversal” erradamente transmite.

Aqui não está em causa a concordância ou não com o regulamento do município de Odemira. Nem sequer está em equação a (i)legalidade de tal Regulamento (que não compete à GNR julgar). O que está em causa é mais um péssimo serviço prestado à causa autocaravanista por parte do MIDAP levando as pessoas ao engano. Já são erros e trapalhadas a mais para poderem explicar-se simplesmente pela incompetência.

O MIDAP/DeCarvalho, depois da patetice de se proporem dar aulas às forças policiais para os formarem sobre autocaravanismo, vêm agora propor a elaboração de uma circular para ser distribuída organicamente pela GNR o que é algo que temos dificuldade em qualificar. Ridículo é o mínimo que pode dizer-se. Os militares cumprem instruções recebidas hierarquicamente, não são marionetas que se movimentem ao sabor dos caprichos de alguém, por mais iluminado que se considere.

Se não sabem fazer bem, melhor fora que estivessem quietos e calados em vez de saltarem de trapalhada em trapalhada com a febre de quem quer mostrar serviço. Não é que nos incomode as suas tristes figuras, mas preocupam-nos as consequências dos seus gestos irreflectidos para a liberdade de ser autocaravanista em Portugal.

terça-feira, 17 de março de 2009

MIDAP: obra feita, ou apenas demagogia e trapalhadas sem fim?

Conforme antecipámos ontem, no texto publicado na Tribuna, iniciamos hoje uma série de comentários na TAC onde demonstramos clara e inequivocamente, que a frenética actividade do auto-entitulado grupo transversal de representantes dos autocaravanistas não passa de um exercício estéril e sem sentido, que nada de novo, e sobretudo de positivo, acrescenta ao movimento autocaravanista. Em bom rigor os autocaravanistas só têm a perder com as “trapalhadas” do MIDAP.

A primeira grande preocupação deste grupo tem sido mascarar a evidente falta de representatividade que tem entre os autocaravanistas. Ainda no último comunicado é referido que já se sentam à “volta da mesma mesa” vários clubes e entidades que depois vêm desmentir categoricamente que não fazem parte do MIDAP. Só por aqui podemos constatar a confusão e sobretudo a falta de rigor e seriedade que este “movimento transversal” vem emprestando ao movimento autocaravanista. Apesar da mestria colocada na arte da manipulação, do comunicado apenas ressalta a demagogia.

O espalhafatoso anúncio de um parque de estacionamento na capital, acessível a autocaravanas, não passa afinal de uma promessa e, como todos bem sabemos, de promessas está o mundo, aqui e além cheio, bem como de trocadilhos e provérbios usados ao sabor da corrente, para melhor iludirem a verdadeira realidade.
Por exemplo, e no caso concreto do concelho de Lisboa, já há 2 anos que o CPA tinha, também, a promessa da construção de uma AS com pernoita no Parque das Nações e que a CM Lisboa estudaria a proposta de localização de uma AS junto a Belém. Mas daí a ter-se concretizado no terreno as promessas, vai uma grande distância, ainda mais com eleições autárquicas pelo meio.

À medida que vamos lendo o comunicado do MIDAP, algumas preocupações vamos registando. Reveste-se-nos de particular gravidade a afirmação de que poderá ser criado um espaço como “alternativa ao parque de campismo de Monsanto para os autocaravanistas nacionais e estrangeiros que demandam a capital, poderem estacionar e pernoitar em segurança na suas viaturas.” Ou seja, o MIDAP não só deixa transparecer que concorda com a AECAMP e com a FCMP, de que o lugar das autocaravanas é nos parques de campismo, como retoma a ideia expressa na célebre Portaria n.º1320/2008 de que, fora dos campings, as autocaravanas terão espaços especialmente a elas destinadas, de acordo com o que lá se encontra estipulado.

Sabendo nós a apetência que as câmaras municipais têm para produzirem regulamentos de trânsito limitadores da permanência e estacionamento das autocaravanas, é de extrema gravidade que sejam os próprios autocaravanistas a proporem, directa ou indirectamente, a inibição ao livre estacionamento das autocaravanas.

Aqui está um claro exemplo de como uma boa ideia - a construção de parques de estacionamento e áreas de serviço - se pode converter numa má solução, se não forem tomadas as devidas cautelas, ou se deixarmos que estas pessoas se apresentem às autoridades como representantes dos autocaravanistas que não são, enquanto não se sujeitarem ao plebiscito de quem de direito. O uso e pelos vistos o abuso do nome de terceiros para lhes dar uma pretensa legitimidade terá os dias contados, quando a “máscara” cair e as consciências de todos os autocaravanistas despertarem.

Pela nossa parte, enquanto autocaravanistas, continuaremos firmes nos alertas, mesmo que vozes surjam a “querer” calar-nos e retirar-nos direitos de opinião e cidadania. Ao contrário de alguns, não nos insinuamos junto de ninguém como “representantes” de terceiros que nunca consultámos. Assumimos publicamente as nossas opiniões enquanto autocaravanistas livres. Tão só isso.

Constatar que cada dia que passa são mais os autocaravanistas que se reconhecem na nossa voz não é para nós um troféu, nem nenhuma premissa fundadora de qualquer movimento transversal, de um clube, observatório ou outra trapalhada qualquer. Sermos o espaço mais lido do cyberespaço autocaravanista é uma honra, é um estímulo, mas é também para nós uma responsabilidade acrescida.

Não nos calarão!

segunda-feira, 16 de março de 2009

A Tribuna Autocaravanista e o actual momento do Autocaravanismo em Portugal

Face ao aparecimento de alguns comentários em fóruns e blogs, inclusive na TAC, impõe-se fazer alguns públicos esclarecimentos.

A Tribuna Autocaravanista tem como único e central objectivo contribuir para o debate sobre a temática do autocaravanismo e as suas várias vertentes, com especial ênfase sobre o autocaravanismo enquanto turismo itinerante. Várias vezes nos últimos 3 meses de uma forma clara, directa e objectiva temos dado o nosso contributo através da publicação diária de sugestões, opiniões, comentários críticos e alertas sobre o actual momento que atravessa o autocaravanismo.

Se de alguma forma temos visado alguém ou algum grupo em particular isso deve-se, tão só, a uma análise crítica sobre o percurso por eles escolhido, que somos livres de considerar incorrecto. Vivemos em Democracia e sentimo-nos com iguais direitos de cidadania, que nos permitem comentar ou agir em função das nossas convicções. Se existem tantos “agentes” que se vêm arrogando como “nossos” defensores, sem que para isso lhes tenhamos passado qualquer credencial, porque razão haveríamos de ser cerceados de um Direito Constitucional – o da livre expressão e pensamento?

Sentimos que os caminhos percorridos são perigosos e que nos podem levar a perder o maior dos fundamentos de um autocaravanista – o da sua liberdade de viajar, usufruindo das potencialidades da viatura que adquiriu. Não procuramos atacar pessoas, mas criticamos acerrimamente as ideias que alguns procuram impor como “salvadoras”, quando delas abertamente discordamos ou sobre as quais temos fortes dúvidas.

Paralelamente, temos também sido contundentes com o CPA, pela forma como o maior e mais representativo clube de autocaravanismo português tem sido (mal) gerido, desbaratando um capital ganho no biénio 2006/07.

Nada nos move contra ninguém a título pessoal. Mais, não temos interesses particulares, económicos, políticos ou de qualquer outra espécie no meio autocaravanista. Se somos incómodos é porque não assobiamos para o lado ou voltamos a cara quando vemos que algo está mal ou do qual não concordamos. Não fazemos acusações gratuitas só porque existem pessoas com ideias diferentes daquelas que publicamente assumimos. Também ninguém nos viu fazer ameaças ou infundados assassinatos de carácter. O que nos move é o direito de opinião cimentado na defesa intransigente da nossa liberdade individual – um anseio colectivo - que não pode nem deve ser posta em causa por ninguém, mesmo que por mera ingenuidade, e muito menos por parte de quem tenha eventuais interesses particulares. O que lastimamos profundamente é a evidente e incompreensível situação penosa porque passa o maior clube português de autocaravanismo. A nossa actuação, a nossa crítica, não pode ser interpretada com o fundamento da “destruição” mas antes como um alerta à consciência dos seus associados para uma desejável reversão. Quem se calou ou, pior ainda, apoia a actual desgovernação do CPA, é que será responsabilizado pelas consequências negativas que esta gestão trará ao Clube e aos autocaravanistas num futuro próximo.
Como pode um clube com quase dois mil sócios ficar feliz com a unanimidade de uma AG onde apenas compareceram umas escassas dezenas de pessoas?
Melhor fora que aqueles que sem mostrar dispor de uma única ideia válida para o autocaravanismo apenas se preocupam em atingir o bom-nome dos autores deste Blog, se preocupassem antes em encontrar resposta para estas questões:
- O que pensarão do actual momento do CPA os mil e tal sócios que deveriam estar na AG e não estiveram?
- Porque será que cada dia que passa é menor a proporção de autocaravanistas que se revê no CPA?
- Porque foram criados no último ano 4 Clubes formados por autocaravanistas sem que o CPA revelasse qualquer capacidade de inverter este processo de fragmentação do movimento associativo?

Parece que anda por aí muita gente com medo de enfrentar a verdade dos factos!

Não dizemos mal só por dizer ou só para contrariar quem quer que seja. Demonstramos inequivocamente porque criticamos as opções que alguns insistem em seguir e apontamos soluções e possíveis caminhos que poderão ser seguidos em alternativa.

Não nos escondemos em pseudónimos ou em acrónimos. Damos o nome e a cara em defesa das nossas convicções, não porque somos melhores que os outros, mas porque assumimos a nossa discordância legitimados na saudável frontalidade que só dignifica quem se sente com direito e vontade de intervir.

Não somos, certamente, mais uns teóricos que do seu pedestal imaginário, vão mandado “bitaites” que apenas contribuem para o ruído de fundo que vai afastando aos poucos e poucos os autocaravanistas do associativismo. Temos provas dadas sobre o que fazer e da forma de proceder para atingir uma correcta dinâmica institucional do autocaravanismo e para a dignificação social da imagem dos autocaravanistas. Ao contrário de muitos, temos provas dadas e temos ainda bem presente na memória aquilo que foi possível atingir em tão pouco tempo.

Vamos continuar a mostrar como a demagogia, a hipocrisia e a manipulação tem sido usada e abusada pelos pseudo autocaravanistas “bem formados” que constituem um pretenso movimento representativo dos autocaravanistas portugueses.

Dito isto reafirmamos do alto desta Tribuna que não somos, nem ambicionamos ser, nenhum Clube mas que nada nos demoverá de prosseguir o caminho que anunciámos na primeira mensagem que aqui publicámos e que parcialmente recordamos:

Porque não há machado que corte a raiz ao pensamento...a Tribuna segue os trilhos dos autocaravanistas itinerantes que buscam a liberdade alicerçada na razão crítica e na dignidade social.

Afinal quem somos e o que queremos nós ao envolver-nos na criação desta Tribuna Autocaravanista?Bom, em face do que se tem visto por aí nos últimos tempos, o melhor é começar por esclarecer o que não somos: não somos o embrião de nenhum clube; não somos obreiros de nenhum círculo, nem triângulo, nem sequer um quadrado ou um losango. Somos simplesmente autocaravanistas com o saber acumulado pela vida e pela experiência enquanto dirigentes associativos. Somos autocaravanistas que seguem com apreensão o rumo que o autocaravanismo vem seguindo em Portugal. Somos autocaravanistas que cultivam a liberdade alicerçada na responsabilidade, e que não hipotecam a consciência ao jogo oportunista do discurso politicamente correcto.

sexta-feira, 13 de março de 2009

TOLEDO: mais um gesto de perseguição aos autocaravanistas

Pela mão do companheiro Vicente, de Gijon (http://www.areasac.es/), tomei conhecimento de mais um gesto de perseguição (i)legal aos autocaravanistas.
Desta vez é em Toledo, onde o Município acaba de aprovar um Regulamento Municipal sobre a ocupação do espaço público. Para além de definir as condições de licenciamento de bares, esplanadas e quiosques, o Regulamento estabelece na secção 10, artigo 107, que é proibido:
“Acampar nas vias e espaços públicos, acção que inclui a instalação no espaço público ou nos seus elementos móveis de tendas, veículos, autocaravanas ou caravanas, salvo em lugares concretos autorizados. Também não é permitido dormir de dia ou de noite nesses espaços.”
Este é mais um exemplo do que pode vir a acontecer-nos em Portugal no futuro, até porque também cá a regulamentação do uso do espaço público é competência das Autarquias Locais. O artigo 29º da recente Portaria regulamentadora do campismo até já definiu quais são os “lugares concretos autorizados” para a pernoita das autocaravanas.... só não vê quem não quer ver.
Este é mais um exemplo que mostra como é importante os autocaravanistas organizarem-se, mobilizarem-se e lutarem pela defesa dos seus direitos. Para ser autocaravanista não basta ter uma autocaravana, temos que colectivamente criar condições para podermos desfrutar dela em liberdade.
Este é mais um exemplo que mostra o perigo que é os autocaravanistas deixarem-se conduzir por entidades a quem apenas interessa rentabilizar os Parques de Campismo.
Este é mais um exemplo que mostra como é um disparate querer alterar-se o Código da Estrada para criar um sinal de trânsito que permita a descriminação das autocaravanas. Já nos basta o sinal com a caravana que foi criado apenas para indicar a localização dos parques de campismo, mas agora só é usado para nos empurrar para lá.
Este é mais um exemplo que mostra como temos razão em criticar o rumo que o autocaravanismo vem seguindo em Portugal.
Este é mais um exemplo que mostra o baixo nível intelectual daqueles que nos acusam de fazer ataques pessoais quando nos limitamos a criticar ideias, daqueles que têm necessidade de permanentemente dizer que são sérios e bem intencionados (certamente por duvidarem de que o sejam), daqueles que perdendo a noção do ridículo nos chamam cobardes, daqueles que revelam a sua ordinarice ao socorrerem-se de ditados populares para chamarem aos autores desta Tribuna “cães” que rosnam e “burros” cujas vozes não chegam ao céu, etc... Assim se vê quem é que diz adoptar códigos comportamentais de RESPEITO mas passa a vida a fazer ataques pessoais do mais baixo nível, ataques que de tão ordinários não atingem ninguém apenas desqualificam quem os faz. É triste ver pessoas que são incapazes de contrariar um só dos nossos argumentos a reagirem desta forma.
Se não fosse tão pequena a capacidade intelectual dessas pessoas usariam antes aquele ditado que diz: se vires as barbas do vizinho a arder põe as tuas de molho.
Isso lhes permitiria perceber que aquilo que está a acontecer em Espanha nos pode acontecer a nós em qualquer momento e que, face a esta ameaça, muito do que os auto intitulados heróis do autocaravanismo português vêm fazendo não passa de uma sucessão de atitudes irreflectidas, de trapalhadas e asneiras pelas quais mais tarde ou mais cedo todos os autocaravanistas terão que pagar.
A informação que a TAC divulgou anteontem sobre o que já se está a passar no Algarve é bem clara. Só não vê quem teima em não querer ver.

Raul Lopes

quinta-feira, 12 de março de 2009

Correio da Tribuna: vamos criar um novo Clube?

A propósito da nossa mensagem "Abriu a época de caça às autocaravanas no Algarve" publicada ontem, o companheiro Vitor Viegas (que não temos o prazer de conhecer) fez-nos o seguinte comentário:

Tenho seguido atentamente os artigos publicados na TAC.
De um modo geral estou em total sintonia com as opiniões e críticas manifestadas.
No fim da leitura de cada manifesto, fico sempre em mente, com a ideia da criação de um novo clube, com base na TAC. E aqui fica uma pergunta. Ainda não há condições para tal? Ainda falta muito?
Um abraço autocaravanista.
Vitor Viegas
Porque a pergunta é pertinente, não podíamos ficar-lhe indiferentes, apesar de sabermos que era mais cómodo ficar calados, evitando assim as críticas. Quem nos conhece sabe que somos pessoas frontais e transparentes, gostamos de falar claro, pelo que aqui fica a resposta à questão colocada.


Estimado companheiro Vítor. Obrigado pelo estímulo das suas palavras.
Compreendemos bem o seu estado de espírito. Temos, aliás, razões para pensar que são cada vez mais os autocaravanistas a comungar do mesmo sentimento. Em todo o caso, desde o primeiro momento, assumimos com os nossos leitores o compromisso de não contribuir para aumentar a descredibilização do movimento autocaravanista criando mais um "clubezeco". Continuaremos firmes no apontar de caminhos e soluções, mas não nos cabe (pensamos nós) a iniciativa de um processo do tipo daquele que sugere.

De resto, apesar dos tiros no pé que o CPA vem dando e as trapalhadas que o circulo do MIDAP vem protagonizando, pensamos que não há condições para que, actualmente, se pense numa iniciativa séria e verdadeiramente mobilizadora dos autocaravanistas esclarecidos. Pelo menos nos termos em que pensamos que ela faz falta em Portugal.

Mas sobre isso quem tem a palavra são os autocaravanistas, na certeza de que se tal consciência colectiva se manifestar terá nesta Tribuna uma trombeta.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Abriu a época de caça às autocaravanas no Algarve

Mais cedo do que o habitual, este ano já abriu a época de caça às autocaravanas no Algarve.
No dia 17 de Janeiro alertámos aqui para uma operação da GNR em Armação de Pêra cujos fundamentos legais não foram devidamente explicados, nem quando nós próprios solicitamos explicações ao respectivo comando.
Um mês depois, a 16 de Fevereiro, também aqui na Tribuna, alertámos para o risco de se estar a preparar no Algarve a primeira aplicação do conceito de área de serviço criado pela Portaria 1320/2008, isto é, um Parque de Campismo exclusivo para autocaravanas, abrindo caminho para posteriores regulamentações que imponham estes espaços como os únicos onde se pode pernoitar.
Agora é o CCP que nos revela mais uma atordoada contra os autocaravanistas, vinda a público no jornal Postal do Algarve, que pode ser visto aqui (para ler basta fazer clique sobre a imagem) num recorte que acompanha a mensagem do fórum que revelou à comunidade autocaravanista a notícia.
Da jornalista (??) Joana Lança que assina a peça não há muito a dizer, pois, ignorando as mais elementares regras de imparcialidade a que o dever deontológico a obriga, limita-se a escrever aquilo que lhe segredaram ao ouvido, manifestamente sem perceber do que está a falar.
O que é extraordinário, mas não original, é o discurso do dono do Parque de Campismo de Cabanas de Tavira. Este senhor faz contas à vida e sonha com os 30 mil euros/mês que receberia se as autocaravanas que estão nesta altura estacionadas em Tavira estivessem no seu camping. Como tal não acontece e o Parque tem prejuízo, a culpa é dos autocaravanistas. Este discurso é absolutamente inaceitável por duas razões:
Primeira, numa economia de mercado os consumidores têm a liberdade de decidir comprar ou não os produtos-serviços que lhes são oferecidos. Ora, neste caso o que acontece é que os autocaravanistas não reconhecem como justo o preço que o camping lhes cobra pelos serviços prestados. Se eles se sentissem bem no Parque não se limitavam a passar lá uma noite para tratar da logística e higiene pessoal.

Segunda razão. É abusivo, e despropositado, pensar-se que se os autocaravanistas forem expulsos do local onde estão se irão instalar no Camping de Cabanas de Tavira. Os autocaravanistas têm um sentido muito apurado da injustiça persecutória, por isso quando são vítimas das autoridades são os primeiros a perceber que os mandantes são os donos dos campings e... simplesmente mudam-se para outras paragens.
Curiosa é a coincidência entre o argumento “do prejuízo que os autocaravanistas selvagens” estão a provocar ao parque de campismo e o argumento usado no Relatório da CCDR-Algarve que no Verão passado contestámos. Também aí se dizia que o facto dos autocaravanistas pernoitarem fora dos campings representava um prejuízo de 8 milhões de euros para a Região. Mais cedo do que esperávamos a realidade veio dar-nos razão.

Enquanto alguns se entretêm exibindo-se com espalhafato na Assembleia da República, no Instituto de Turismo e no comando da GNR alegando que “aquém e além” se faz a interpretação que lhes convém da Portaria 1320/2008, a realidade vai colocando os autocaravanistas cada vez mais próximos do momento em que serão empurrados para dentro dos campings. Deste modo os autocaravanistas estão a ser vítimas, em primeiro lugar, dos gestos irreflectidos de um minúsculo grupo que na ânsia de encontrar a legitimidade representativa que lhe falta se entrega a um desmedido frenesim para mostrar serviço. Trata-se de uma estratégia de fuga para a frente, saltando de trapalhada em trapalhada, tentando escamotear fracassos e erros com outros erros, quando o que se impunha era emendar a mão.

Duvida da análise que fazemos? Então atente nas palavras do Presidente da Câmara de Tavira, amigo e membro da mesma direcção distrital do partido a que pertence Mendes Botas (o PSD), presidente da sub-comissão de turismo que recebeu a auto-designada “delegação de qualificados autocaravanistas” na AR e que agora se diz estar a preparar uma iniciativa legislativa do grupo parlamentar do PSD.
O Presidente da Câmara, Macário Correia, diz sem margem para dúvidas o que pensa vir a fazer. Quando for “oportuno” ele vai “resolver” o problema das autocaravanas estacionadas em Tavira. Quando será isso?... quando o parque de campismo estiver licenciado.
De que licenciamento fala Macário Correia? Da conclusão do licenciamento do camping de Cabanas, ou estará a referir-se ao anunciado novo parque para autocaravanas licenciado a coberto do artigo 29º da Portaria regulamentadora do campismo? De que forma pensa ele vir a resolver o problema? Nós arriscamos responder: fazendo aprovar um Regulamento Municipal que proíba as autocaravanas de estacionarem fora dos locais definidos pela Portaria 1320/2008, sendo as autoridades policiais encarregues de “encaminhar os autocaravanistas para os locais adequados”, como se propôs no Relatório da CCDR-Algarve que nos valeu sermos atirados para a fogueira por então o termos criticado.

Os agricultores (excepto aqueles que são ignorantes de mais para serem agricultores não sabendo distinguir o trigo do joio) sabem que as ervas daninhas acabam por expulsar e aniquilar as boas colheitas.
Os estudantes de economia cedo aprendem que a moeda fraca (a má moeda) expulsa do mercado a moeda forte (a boa).
E toda a gente sabe que as más ideias, assim como as más notícias, são as que mais depressa se propagam.
Infelizmente, qualquer destas três regras tem aplicação no autocaravanismo em Portugal. Se continuarmos a assobiar para o ar enquanto uns poucos se vão divertindo, actuando de forma irreflectida e fazendo-o em nosso nome, mais tarde ou mais cedo todos iremos pagar por isso. Acumulam-se os sinais de que esse momento poderá estar mais próximo do que parece.
Curiosamente esta "notícia" sobre Tavira surge na mesma semana em que a Câmara de Loulé anunciou a construção de um novo Parque de Campismo em Quarteira: um parque de campismo de 4 ou 5 estrelas, diz a autarquia em comunicado, prevendo-se que "este parque contemple não só o campismo, como também o autocaravanismo como forma de resolver alguns problemas de abuso de utilização do espaço público na região”.
É assim tão difícil perceber como pensa a Câmara resolver os problemas de abuso de utilização do espaço público?
Ah, para quem pensa que as autarquias locais se conquistam com arraiais, lembramos que Quarteira é "o quintal" do sr. Cândido Boaventura, o sócio do CPA que se dedica à venda de máquinas para áreas de serviço, e que ainda recentemente o CPA realizou um Encontro precisamente em Quarteira, supostamente fazendo parte da estratégia para aqui instalar uma AS. Parece que valeu a pena...

terça-feira, 10 de março de 2009

O Autocaravanismo no Brasil

Iniciamos aqui um conjunto de artigos sobre o autocaravanismo no Brasil, um destino pouco explorado pelos autocaravanistas europeus apesar das suas esplendorosas paisagens naturais.
Luiz Tostes é um dos mais activos dirigentes da ABRACAMPING, Associação Brasileira de Campismo. Neste momento esta associação está a trabalhar com o Ministério do Turismo Brasileiro no desenvolvimento de legislação sobre o campismo e o caravanismo e é com satisfação que registamos que as opiniões veiculadas na Tribuna Autocaravanista sobre a legislação portuguesa têm sido levadas em conta como suporte à elaboração de uma proposta de enquadramento legislativo no Brasil. Agradecemos ao companheiro Luiz Tostes a colaboração na divulgação em Portugal do que se passa com o autocaravanismo no Brasil.


Caravanismo no Brasil

Com satisfação recebi da “Tribuna auto-caravanista”, um convite para enviar matéria sobre o caravanismo no Brasil. É uma oportunidade para iniciarmos um intercâmbio necessário entre caravanistas do Brasil e Portugal.
Em vista das diferenças nos termos utilizados nas línguas dos dois países, no que se refere ao caravanismo, vamos apresentar a terminologia que utilizamos no Brasil.
Embora com origem na língua inglesa, o Código de Trânsito Brasileiro adota a denominação “Trailers” para definir os reboques turísticos, conhecidos como “Caravanas” em Portugal. O mesmo nome é utilizado por usuários e fabricantes no Brasil .
O Código define como “Motorcasas” o que os portugueses conhecem como “Autocaravanas”. O usual entre nós é a denominação “Motorhome”, utilizada inclusive nos anúncios dos fabricantes desses veículos.

Cenário do caravanismo no Brasil

A frota de motorhomes está estimada em aproximadamente 5.000 veículos, e a de trailers em 6.000. Esses dados se baseiam na produção dos fabricantes e em estimativas.

Em relação a outros países é um paradoxo. Constatamos internacionalmente, que a quantidade de trailers é sempre bem maior do que a de motorhomes. No Brasil essa proporção não está ocorrendo, em função de uma limitação criada pelo Código de Trânsito Brasileiro para motoristas de motorhomes e de veículos que tracionam trailers de turismo.

O Código exigiu uma habilitação “profissional” para motoristas de motorhomes e de veículos que tracionam trailers, não permitindo a licença de “amador”.
A conseqüência dessa legislação foi a limitação do mercado com paralisação da fabricação de trailers. Poucos estão trafegando; a maioria está estacionada em campings funcionando como “casas de campo”.
Não existem locadoras de motorhomes, pois dificilmente um turista estrangeiro terá a habilitação exigida. Projeto de lei tramitando no Congresso Nacional corrigirá essa distorção.

Brasil, o país das grandes distâncias

Os motorhomes que circulam no país são todos produzidos em fábricas brasileiras. O alto valor dos impostos limita a importação desses veículos .
O nível de conforto, qualidade e segurança dos motorhomes brasileiros é de padrão internacional.
A paisagem no Brasil é bem variada. Um extenso litoral com praias para todos os gostos, várias ainda pouco ocupadas; serras nas regiões Sul, com cidades típicas de colonização européia, e Sudeste onde se situam as antigas vilas da era de mineração do ouro. No Sudoeste impressionam as imponentes Cataratas do Iguaçu.
Com essa diversificação de atrativos turísticos e a extensão do país as viagens são sempre longas, e o motorhome é o veículo ideal.
No Brasil, “abençoado por Deus e bonito por natureza”, segundo um popular samba, as distâncias são muito grandes – 1.200 km entre Brasília e Rio de Janeiro ou São Paulo, 1.600 km do Rio de Janeiro a Porto Alegre, no Sul do país, ou 1.700 km até Salvador, na Bahia.
O maior número de campings situa-se nas regiões Sudeste e Sul. Nas estradas é freqüente pernoitar nos postos de combustível, durante a viagem.
Em pontos de interesse turístico onde não existem campings, busca-se estacionar junto a restaurantes, pousadas e em estacionamentos públicos, sempre locais seguros, que tenham ligações de água e eletricidade.
Por essa razão, os motorhomes são equipados com geladeira de padrão doméstico, fogão, banheiro completo, forno de micro-ondas, ar refrigerado, caixa de água potável de 200 a 400 litros e, com frequencia, gerador. Essa configuração proporciona conforto e autonomia de viagem.
São comuns viagens de 6 a 8 mil km. No início de 2008 viajei aproximadamente 6 mil km por toda a região sul, partindo de Brasília, onde moro.
A maioria dos motorhomes tem um comprimento entre 8 e 10 metros e, alguns, até 14 metros. A montagem daqueles de tamanho médio é em chassis de caminhão Volkswagen ou Mercedes, os mais populares no país.
Os chassis de 13 e 14 metros são das marcas Volvo e Scania. Um motorhome desse comprimento equivale a um ônibus rodoviário.
Mas estão se tornando cada vez mais populares veículos de 6.30 a 8 metros montados nos chassis da Mercedes Sprinter e Fiat Iveco com capacidade de 4 a 6.000 kg, e adaptações em furgões Renault Master e Iveco.
Como ocorre nos Estados Unidos, os proprietários de veículos maiores viajam sempre rebocando um automóvel ou jeep. Alguns levam motocicletas.
No próximo artigo informaremos sobre as fabricas de motorhomes com a apresentação de fotos dos vários modelos.

Luiz Edgar Tostes
Brasília, Brasil
Fevereiro 2009
Para “Tribuna Autocaravanista” - Portugal

segunda-feira, 9 de março de 2009

Uma escapadela ao passado: de Trás-os-Montes a Macau...

Quando penso em Trás-os-Montes é inevitável que me lembre do amigo Urbino, uma das boas heranças que recebi do autocaravanismo. É seguramente o autocaravanista mais distinto que respira para lá do Marão, e é ao seu capital social, empenho e paciência para me aturar que todos nós devemos a existência da Área de Serviço de Torre de Moncorvo.
Mas o seu estatuto social na região rivaliza com a modéstia e noção de serviço colectivo que empresta aos seus gestos. Por isso estou certo que se o tenho consultado não aprovaria que eu escrevesse estas palavras, o que as torna ainda mais merecidas.
Desta vez o colega, companheiro e amigo Urbino partilha connosco uma fresta da panóplia de sentimentos, sabores e memórias que lhe afluíram numa fugaz viagem de autocaravana por entre os montes e vales que o viram crescer.
A Tribuna Autocaravanista sente-se honrada por conferir projecção a esta crónica em registo de quem é e se sente genuinamente autocaravanista. Estou certo que no final da leitura você também se vai sentir grato(a) ao distinto Repórter Itinerante da TAC por terras de Trás-os-Montes.

Raul Lopes


O período de Carnaval é sempre uma ocasião propícia para um passeio mais alongado, quando o tempo o permite, como foi o caso deste ano. Normalmente, nesta época alternamos entre a neve, se está frio, e a amendoeira em flor, se o sol aquece.
Este ano, resolvemos sair para as amendoeiras em flor, regressando a terras que foram as minhas de nascença, e aproveitando para recordar o I Encontro de Autocaravanas em Moncorvo, em 2008. Saídos de Bragança já perto do meio-dia, passámos por um grupo de autocaravanas, em Podence, um pouco depois da albufeira do Azibo, que julgamos ser do CAS (Clube Autocaravanista Saloio), e dirigimo-nos para a foz do Sabor, que dá o nome à aldeia.
Depois dos montes e da serra de Bornes, com perspectiva sobre todo o vale da Vilariça, passámos por Vila Flor, uma vila pequena mas simpática, com um museu digno de visita e um miradouro que nos espraia a vista por horizontes quase infinitos.
Descemos até à fábrica das águas Frise, bem conhecidas da publicidade, percorremos um dos vales mais férteis do país – o vale da Vilariça –, atravessámos as suas vinhas que se prolongam até à Foz do Sabor, e soube bem chegar à confluência do rio Sabor com o rio Douro para saborear um bacalhau com grelos, no meio de uma paisagem que nos deixa sempre rejuvenescidos na alma. Uma garrafa de Quinta de Vila Maior - cujo produtor é daquela aldeia, mesmo ao lado da vinha do célebre Barca Velha - deu ao bacalhau com grelos um sabor que rivaliza com qualquer outro petisco do mais caro restaurante do mundo.
Rumando para Moncorvo, foi tempo de visitarmos a Feira do artesanato, onde comprámos umas bugigangas e uns doces de amêndoa, passando ainda pelo comércio local para reabastecer a garrafeira com uma caixa do “Casa da Palmeira”, um irmão mais em conta do Quinta de Vila Maior. Enquanto a garrafa deste vai para 18 euros, a garrafa daquele fica-se pelos 7.50 euros

30 anos depois…de Moçambique
Saímos de Moncorvo pelas 5 da tarde com ideias de pernoitar em Foz Côa. Só que a vantagem das planificações em autocaravana é poder desplanificá-las a cada passo. E assim fizemos. Em vez de pararmos em Foz Côa, seguimos para Celorico da Beira, mais concretamente para a aldeia de Vale de Azares (se fosse supersticioso não tinha ido), passando ao lado da Meda e de Trancoso. No Lar de Idosos da aldeia encontra-se um casal amigo da família da minha mulher, desde os tempos de Moçambique, onde uns e outros mourejaram em busca de melhores dias.
Ao prazer do reencontro e da recordação doutros tempos e doutras vidas, juntou-se o prazer da descoberta de um humanismo autêntico, feito de generosidade e de pequenos nadas, que ainda é possível descobrir nas nossas aldeias, mas cada vez mais difícil de descortinar nos meios urbanos, feitos de individualismos crescentes e de egoísmos que fecham as pessoas em autismos de solidão e sofrimento.
50 anos depois … de Macau

No dia seguinte partimos sem grandes planos, de novo em direcção ao Douro e às amendoeiras em flor. Passámos por Pinhel, que aproveitámos para conhecer. Uma cidade pequena, mas cheia de história, testemunhada ainda por vários solares e pelo que resta de um castelo que D. Dinis mandou reconstruir e que, ao longo dos séculos, foi sempre fiel aos reis de Portugal em todas as escaramuças em que estes se viram envolvidos com os reis do país vizinho.
E já que de um passeio de memória se tratava, lembrei-me que eram dali o Leopoldo Pinheiro e o José Coelho Matias. Logo no primeiro café em que perguntei por ele, obtive as informações necessárias para o procurar e reencontrar num abraço que recordou o primeiro encontro de 50 anos atrás, nas terras longínquas de Macau. Foi com alguma piada que recordei o facto de sermos ambos naturais de dois concelhos quase vizinhos – eu, de Moncorvo, e ele, de Pinhel – e nos termos conhecido a milhares de quilómetros de distância, aquela a que Macau se encontra. São as voltas que a vida dá!...
Enquanto bebericámos um café, pusemos as vidas em dia e recordámos professores e colegas.

A vida feita de conversa… da treta?...

Entretanto tínhamos combinado com o presidente da Câmara de Moncorvo que, à noite, estaríamos no Cine-Teatro local para assistir à “Conversa da Treta” do António Feio e do José Gomes. Mesmo assim, ainda tivemos tempo para almoçar e descansar em Figueira de Castelo Rodrigo, e passar depois por Almendra, Castelo Melhor e, de novo, Foz Côa. Que deslumbramento de paisagens!... Os olhos não se cansam de as contemplar e a alma de as perscrutar!...
Antes do espectáculo, novo encontro feito de memórias. O Rogério, meu primo, - que me acompanhou até Macau e comigo por lá estudou 5 anos, mais tarde fez-se professor, jornalista do Diário de Lisboa, do Jornal, da Visão, da Capital, do Rádio Clube Português – também estava em Moncorvo, por coincidência. O jantar foi pretexto para uma conversa, não da treta, mas de verdadeiro alimento da alma. Recordámos as contradições do marxismo e do salazarismo e a sabedoria de Lévinas; citámos Kierkegaard e Hegel, entre outros, enquanto o corpo se entretinha com uma garrafa de “Montes Ermos” e uma posta à mirandesa. A alma ficou satisfeita, mas o corpo também não se queixou.
A memória da infância pregou-nos nova partida depois do espectáculo do António Feio e do seu compincha, ao encontrarmos a Conceição e o marido, que tiveram a amabilidade de nos acompanhar até à autocaravana e ali regressarmos ao passado da aldeia e da nossa família, agora dispersa um pouco por todo o lado, desde Peredo dos Castelhanos até Lisboa, passando o Atlântico para os Estados Unidos da América. Uns figuinhos secos e uns grãos de amêndoa foram-nos ajudando a compor o estômago com uma “Casa da Palmeira”, os homens, e um chazinho de cidreira, as mulheres.
Junto a nós, pernoitaram mais duas autocaravanas, que neste fim-de-semana elas andavam espalhadas por todo o lado, desde Pinhel a Figueira de Castelo Rodrigo e a Moncorvo.

Pôr-do-sol no Azibo
Na 3ª feira de Carnaval seria o regresso a casa. Mas ainda tínhamos o dia por nossa conta. Acordámos com o barulho das autocaravanas do CAS. Agora, sim, não havia dúvida alguma que se tratava dos companheiros do CAS. Para pena minha, quando acabei o pequeno-almoço já eles tinham ido a dar uma volta pela vila e não pude meter conversa com nenhum deles.
Antes de partirmos de Moncorvo, ainda deu para mais uma voltinha pela vila a comprar os últimos “regalos”, como dizem nuestros hermanos, e para voltarmos à Área de Serviço das Autocaravanas, a melhor do distrito de Bragança, que resultou de uma parceria entre a Câmara Municipal local e a então direcção do CPA, entre os quais eu fui mero instrumento de ligação. Na sua inauguração juntámos, pela primeira vez, mais de 100 autocaravanas no distrito de Bragança, tendo esse encontro ficado como um marco importante na história no autocaravanismo do distrito de Bragança e até de todo o Trás-os-Montes.
Depois, foi um cruzar permanente com companheiros das autocaravanas, desde Moncorvo até ao Azibo, onde almoçámos e esperámos pelo pôr-do-sol. Mais um “banho” de beleza natural.
Só depois é que regressámos ao descanso da casa … mas começando desde logo a pensar na próxima saída. É que isto das viagens em autocaravana, quando se entranham na nossa alma, é difícil viver muito tempo sem lhes fazer a vontade!...

César Urbino Rodrigues